Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

yoga e análise

a semana passada foi cheia de decisões importantes. entrar para a yoga. entrar para a análise. se preocupar menos. ser mais paciente.

as coisas começam a se assentar. leveza demais assusta, está tudo tão tranquilo que eu me sinto prestes a explodir. é uma angústia que vem não se sabe da onde, é uma pressão estranha. parece que o ar é pesado, muito mais pesado que você mesmo, parece que tudo é muito pesado. tudo é muito sério, tudo o que se diz, tudo o que se faz, cada minuto que passa. quem foi que disse que o tempo não pode ser disperdiçado?

hoje foi a minha primeira sessão na análise. eu falei sobre como me sinto culpada em perder tempo. e eu sempre me sinto perdendo tempo. vou pulando de uma coisa pra outra, sempre uma nova paixão, sempre um novo interesse, novos amigos, novos hábitos, uma nova fase, uma nova onda. mas todo esse movimento parece ser em busca de algo que não chega nunca, um objetivo dourado que eu mesma não sei qual é, que está lá, em algum lugar, que nunca chega.

o sonho do emprego perfeito. o namorado perfeito. a família, o castelo, o príncipe encantado. o sucesso profissional, a realização pessoal, poder dizer que valeu à pena. valeu à pena o que? quem inventou toda essa baboseira? eu comprei todos esses mitos, todos eles, a típica pequena burguesa que sonha em casar e passar a lua de mel em Paris. mesmo que minhas músicas preferidas não estejam nas paradas de sucesso e meu guarda roupa não siga as tendências da estação, eu não sou tão diferente de todas as pessoinhas que seguem a grande dança do mundo. conheço pouquíssimas pessoas que realmente são e elas em geral não são nem compreendidas nem lá muito integradas.

fico aqui às voltas com as minahs inseguranças, as minhas incertezas, escrevendo alucinadamente para um público inexistente, esperando, esperando. o que estamos todos esperando? a revolução não vem. o príncipe encantado provavelmente também não. quantas pessoas estão realmente satisfeitas com as suas vidas? é possível estar?

eu em geral me sinto muito sozinha. acho que a maioria das pessoas se sente. evidentemente, numa sociedade em que o indivíduo é o ser supremo de sua história particular, é natural que cada um de nós esteja muito sozinho. tudo isso cansa demais. dá vontade de largar tudo, de ir pro alasca, de pular pela janela. mas não é pular pra se estabacar lá embaixo, é pular pra sair voando.

deve ser por isso que eu durmo tanto. porque nos sonhos a coisa frui diferente, porque não são tão duras as cobranças, porque nos sonhos tudo é realmente parte de você. o mundo real é cheio de pessoas, todas elas querendo a farinha no seu pirão primeiro. amizade, amor, fraternidade, tudo isso é lindo e acho que existe de verdade, mas no fim cada coisa se presta a satisfazer cada indivíduo. e cada indivíduo tem seus próprios objetivos, sua propria história.

casar faz sentido. é se juntar a alguém e concordar a respeito de determinados objetivos, para então persegui-los juntos. no fim das contas não importa se os objetivos são atingidos, porque em geral eles nunca são, eles sempre abrem novas janelas e a gente sempre quer mais alguma coisa. mas é bom querer junto, se esforçar junto, se decepcionar junto, acordar junto no dia seguinte.