Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

sábado, 26 de julho de 2008

eu te procurei e te achei no google
achei teus textos, tuas frases, tuas confissões
tuas músicas, teus medos, tuas ambições
eu te procurei e te achei no google

agora eu quero que você me ache
quero vasculhar tudo antes de sair
quero deixar rastros pra você seguir
eu te achei e por isso quero que você me ache

quero te deixar confuso com a minha existência
te deixar surpreso com a minha insistencia
te deixar curioso com a minha displicência

quero te deixar inseguro e desconfiado
quero te fazer contente e aliviado
quero te arrancar um sorriso abobalhado

alguém como você

o título chega a ser singelo de tão cafona. mas é incrível esbarrar com alguém num momento inesperado e descobrir nesse alguém tanta coisa em comum que assusta.

não sei direito por que eu comecei outro blog. acho que porque as coisas mudaram e agora eu nao quero mais o fundo preto. mas aqueles textos tinham o fundo preto sim, nao faria sentido mudar isso. a madrugada produtiva se torna, portanto, registro histórico e a clarice goulart se torna leve.
agora não são apenas as madrugadas produtivas, mas também as tardes. as tardes são inclusive mais longas e contemplativas, o céu agora se pode ver da janela e merece ser visto em todas as tonalidades.

amanhã será domingo e eu amanhecerei com o sol no rosto, como anunciou Paulo Mendes Campos. será lindo e esclarecedor. me sentirei perdoada.
não que tenha cometido algum pecado. não que pecados existam. mas me encantei por alguém, desconhecido e inesperado, que abre blogs e os abandona assim como eu e que também dorme muito. e ele talvez nunca saiba dessa minha admiração por suas palavras e sobretudo sobre seu jeito de dizê-las. mas caso ele siga o mesmo caminho - simples, porém ousado -, caso desvende os rastros e desemboque aqui, ele poderá ler essas linhas e se surpreender com as referências. talvez não perceba as referências. mas talvez se interesse pelo texto, entre em contato, e então eu poderei confirmar eu mesma, é, era sobre você.

ontem um hippie fez uma trança de palha no meu cabelo. nem vi direito, nao sei se ficou bom. mas deixei que ele fizesse para ter tempo de pensar com calma. para ter tempo de aceitar uma idéia que me brotara pouco antes. de que aquele que segurara minha mão não é o homem por quem venho esperando.

ouço músicas leves, caminho descalça pelo apartamento escuro, fumo cigarros. escrevo sobre todas as coisas num mesmo texto confuso. sábado à noite, aos vinte e dois anos, eu tenho muita preguiça de ir a qualquer lado. o apartamento é todo meu por dias, mas deibaixo das cobertas e com fone de ouvido é mais íntimo. não preciso de nada que nao esteja ao alcance dos braços.

é incrível encontrar alguém tão parecido com o príncipe encantado depois de aceita a idéia de que ele não existe, de que não virá, de que il faut se conformar com o que houver. ele existe. eles existem. são muitos, até hoje nenhum deles deu realmente certo, mas a sua idade era qual mesmo? vinte e dois? e você se preocupa com o amor da sua vida aos vinte e dois anos?

quantos livros um homem tem tempo de ler em sua vida? quantos bons filmes consegue assistir? quantos livros na sua estante você não leu? não irei à festa. são muitos os livros, e valem mais à pena que estar com ele. ainda mais depois de encontrar você, você que não pode sequer escutar meu nome.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Finalmente as árvores vermelhas na Praça Paris. O céu muito azul, já em meados de julho, e as árvores finalmente alaranjadas, avermelhando, algumas completamente cobertas por folhas de um cor de abóbora amagentado, com suas leves variações tonais. O céu muito azul.

Seu peito também, azul. Azul e leve, o coração e os pulmões dentro do peito, o peito inchado. O olhar tranquilo e dourado, o sorriso flutuante. Terça feira, três da tarde, o sol lambendo a escadaria da biblioteca, os pracinhas, as árvores da Praça Paris.

Nem sempre tudo era como gostaria. Às vezes ingenuidade demais, às vezes muita sinceridade. Mas seu coração balançava juvenil dentro do peito azul, as tardes seguiam cada vez mais tranquilas. Mesmo que se exaltassem um pouco de vez em quando as noites, as tardes eram momentos puros de paz e auto-dedicação.

As tardes eram finalmente calmas, além de azuis, naquelas tardes de julhos. Livre de horários e compromissos, com o mundo inteiro sob os dedos e os olhos, podia vagar do extenso universo do mundo inteiro ao ainda mais vasto e complexo universo de sua intimidade.

Pouco a pouco, através de artigos, fragmentos, imagens, histórias, conceitos, linhas e traços, ia entendendo o mundo. E com o seu entendimento do mundo, ia se entendendo. Era sua própria cobaia. Dedicava cada uma de suas tardes a uma ou várias dessas atividades, uma a uma, tarde por tarde, experiência por experiência, com a calma que agora dominava, nunca mais lhe faltaria foco.

Às vezes lhe desfocavam a atenção suas emoções. Mas aprendera a dedicar sua atenção às emoções elas mesmas, quando assim fosse, e não insistir em outros temas. Assim, cada momento podia ser pleno em si e cada processo poderia ser completo.

O mundo era todo seu. Porque era livre. Era uma pessoa única e sem dependentes. Daí sua independência. O que nos prendem são aqueles que dependem de nós e não o contrário. E apenas a independência e nunca a carência permite a alguém envolver-se. Estar só e por isso insatisfeito é bastante diferente de estar abertos. E apenas os independentes são realmente capazes de abrir-se, os carentes já estão pela sua carência ocupados.

E o mundo era todo seu, porque era livre. A liberdade lhe invadia e inflava o peito, azul. Espaçoso, azul e leve, o peito. Aberto. Independente e livre, pronto para ser ocupado e envolvido.