Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

pedido

Tenho nas mãos um vaso onde brotaram flores em botão
E eu não sei quando, nem quantos, nem quais desses botões abrirão

Passou um carro-forte
E eu pedi para que qualquer dos botões que se abra vire uma flor exuberante de perfume doce

domingo, 1 de novembro de 2009

novembro chegou com chuva

dentro de mim estou em paz. há pendências ainda, mas quase que como um fio condutor, ligando os dias. me ocorre que a consciência limpa de por-fazeres poderia libertar-nos da ilusão do ontem e do amanhã. mas por hora vivo tranquila o hoje, achando até confortável que seus irmãos invisíveis o escorem por trás e à frente. não estou pronta para lidar com a liberdade da consciência exclusiva do momento presente.

diferentes literaturas me trazem conselhos como cobertores para que eu possa dormir tranquila, ou espelhos nos quais eu possa reconhecer-me e assim localizar-me no mundo. vez por outra eu preciso repetir em silêncio "eu estou aqui, neste dia, neste lugar. esse é o auge da minha vida e do do cume dessa montanha eu contemplo a felicidade de existir. isso é tudo e eu sou isso."

sem que eu domine inteiramente os processos ou possa explicar a mim mesma em palavras, observo que as coisas começam a se assentar. dentro de mim, nem tantas expansões nem tanta pressa, nem tanto fervor nem tantos compromissos, nem tantos temores nem tantos quereres. apenas a compreensão do que me faz bem e do que me faz mal e de todas as coisas que não são bem uma coisa nem outra mas que podem ser ambos, dependendo do momento. e a sabedoria de ouvir o silêncio para entender com o que se regozijará o espírito a cada instante.

o primeiro dia de novembro é um dia branco e quase não posso ver as montanhas daquela cidade do outro lado do mundo. um céu sem contornos, sem promessas, sem qualquer esplendor. o cair da chuva é suficiente para encher o ar de um som constante e me autoriza a não ter que pensar. de todas as coisas que deveria fazer, nenhuma me parece mais merecedora do que olhar os pássaros pretos cruzarem a imensidão leitosa.

o grifo

Antes mesmo de nascerem
Aquele que os moldou desenhou seus encaixes
E declarou que um dia seriam raiz e tronco
galho e fruto
pássaro e ninho

"Porém, o tempo dessas coisas ainda não chegou"