Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

futuro literário

Um dia a vontade secreta de escrever deixou de ser secreta.


Agora tinha que deixar de ser vontade.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

eu sinto falta de morar no lugar onde eu moro. morar de verdade, não apenas habitar. quem já morou sozinho sabe. sabe quando a casa inteira é um espelho de você, inclusive aquele canto meio sujo que você evita olhar, mas sabe? quando a casa inteira respira no seu ritmo. deixar toda a louça que não quer lavar na pia. e no dia seguinte ela ainda está lá, sem cara feia, sem repreensões, ela está lá porque você sujou e você vai lavar quando tiver que lavar, quando quiser lavar. no seu tempo. virar a noite com a música ligada e as luzes acesas. não sair da cama pra nada, nem pra atender ao telefone. ter intimidade com todas as cadeiras, todas as tomadas, todas as prateleiras, saber o que está em cada potinho da cozinha, quantos rolos de papel higiênico tem no armário, o jeito certo de abrir a torneira que está meio esquisita. pode parecer que eu estou falando de privacidade, mas não é. privacidade se tem em qualquer quarto de hotel. eu estou falando de ficar à vontade, se espalhar pelos espaços, não se privar nem se forçar, estar frouxo. pode ser com alguém, alguém que também se sinta assim nesses espaços. basta que os dois sejam capazes de ficar sozinhos juntos, que saibam transitar completamente conscientes da presença do outro, mas sem que isso interfira. que sejam capazes de fazer diante um do outro exatamente o que fariam sozinhos.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

tu vens

Eu vejo como você é. Posso descrevê-lo. Alto, magro, olhos azuis. Nariz e queixo pontudos, grandes, o pomo de adão, mãos e dedos largos, veias nos braços, a boca grande. Costas e ombros amplos. Olhos fundos e azuis. A alma grande. Pés compridos, senso de humor, sim, mas na maior parte do tempo sério. As pessoas não entendem muito. Algumas se encantam. Mas você é distante. Dos próximos não. Dos próximos é muito próximo e faz muito bem. Eu sei dos momentos felizes que teremos juntos, das gargalhadas, da intimidade telepática, dos nossos melhores momentos acontecendo aos 50 anos. Sei que talvez não estejas tão perto, que talvez ainda nos falte muito. Mas vens, tu vens. Eu já escuto os teus sinais.