Decidira não ir à festa. Se era para estar com ele sem estar, preferia não vê-lo. Sem medo de acusarem-na de recusar sua amizade. Nunca houvera amizade sincera entre eles, mas sim um descompasso de intensidade das atrações que sentiam um pelo outro. Ela disposta a colocá-lo no centro de seu universo, como o fazia a cada vez que se viam. Ele, vai saber, às vezes inclinava-se a divertir-se com ela, mas ninguém era capaz de desvendar o que lhe passava na cabeça nessas situações. Portanto pensara e pensara e dormira e acordara muito tarde com medo de abrir os olhos e encarar o dia, mas finalmente decidira ter controle e não render-se ao impulso auto-destrutivo de ir até lá implorar por sua atenção e magoar-se com a sua indiferença, como acontecia na maior parte das vezes.
Tinha vontade de dizer-lhe que não a procurasse mais. Que não a convidasse para sua festa de aniversário ou para qualquer outra ocasião enquanto fosse continuar a tratá-la daquela forma esquizofrênica. Um dia carinho, suor e intimidade, no outro cumprimentos vagos e olhares distantes, no outro um gesto inesperado de quase romantismo. Não, nada daquilo a alimentava ou satisfazia, pelo contrário. Todos aqueles gestos só a dilaceravam, faziam-na pendular entre alegria e sofrimento, entre esperança e decepção.
Não iria na festa e esperava ter força para recusar o que mais lhe fosse oferecido. Se um dia ele se importasse o suficiente a ponto de sentir na sua ausência a mesma falta que ela sentia na sua presença, ele que a procurasse. Não com o convite leviano para uma festa qualquer, mas para uma conversa sincera que ela mesma penitenciava-se um pouco por nunca ter promovido, mas sabia que lhe faltara oportunidade.
Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]
"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"
Sê tu mesmo"
sábado, 1 de agosto de 2009
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