Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

terça-feira, 30 de setembro de 2008

seguindo a regra das coisas importantes de só aparecer quando menos se espera, ela recebeu naquela tarde a valiosa opinião do valioso amigo, que poderia mudar o curso das coisas. não que as coisas tenham um curso previsto por alguém ou em algum lugar, mas elas vão se encaminhando sozinhas e às vezes se nos damos conta disso podemos mudar alguma coisa.

você fica um pouco travada quando fala com ele. assim, não muito travada, mas tímida. quando você está interessada, você fala como falaria comigo, mas um pouco mais tímida.

ela sempre acreditara que se jogava em cima dos homens. que deixava muito claro que estava interessada e que se não acontecia nada a culpa era toda dele. que se o cara quisesse, a gente tinha ficado. não é o que vira o amigo da última vez. mas ele dissera mais, que acreditava que um dia fora diferente.

ela então cogitou a hipótese. de que um dia deixara claro, um dia fora atirada. e que depois alguma coisa mudara, perdera a coragem, ganhara cautela. alguma insegurança, alguma nova regra, alguma série de eventos a transformara.

cabia agora desvendar esse processo, essa mudança, desfazê-la.


{19/10/08}


ou talvez não fosse esse o caso, de desfazer a mudança.

noutra noite, depois de o tema ter sido reconhecido já halgum tempo, supreendera-se conscientemente agindo segundo aquela transformação. defendendo-a. ou revelando-a para defender-se.


fora parte de uma história que começara há mais que meses, na realidade. mas ficara adormecida, uma mera possibilidade, uma agradável ameaça, quase um capricho erótico. nada se desenvolvera, o contexto se transformara. e de repente o turbilhão.


não compreendia porque, mas quando recebera o telefonema, soubera que nao seria capaz. algo a intimidava. nao se sentia à vontade. e não eram as questões externas. essas teriam sido, de certa forma, similares noutro momento. eram mesmo as circunstâncias emocionais e estruturais de sua pessoa que estavam diferentes. seu comportamente deveria então ser outro. até mesmo para preservar-se.




chegara a um momento de fragilidade. e delicadeza. tons pastéis, céus azuis e brancos, mergulhos nos edredons, leveza nos passos de dança. 


se não for para me segurar, não me encoste.  

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

não vai ser agora, mas alguém tem que escrever a diferença entre pasta e rede. sabe esse papo de que a gente ainda lida com o imaterial/virtual como se fosse material?

***

por exemplo, que saco isso de nomear arquivo. sabe essas pessoas que tem métodos ultra mega cartesianos de organização de pastas e códigos de nomeação de arquivos? admirável habilidade essa, de criar sistemas de bibliotecar seus documentos no espaço virtual. o problema é que os recursos oferecidos são ainda muito cartesianos mesmo, de outro tempo.

gente, chega de pastas e nome de arquivos, eu quero colocar tags e estabelecer conexões entre elas, inclusive  a partir da observação de similaridades. tipo o twine. mas tem que ser o desktop inteiro, tem que ser tudo assim, o arquivamento de fotos por exemplo, ou de músicas no player. quero poder colocar quantas tags me ocorrerem, quero criar sequências e arranjos e hierarquias entre elas, segundo os meus critérios!!!


isso sim é o design para escritório que precisamos. do escritório virtual. e não me interessa se você coloca o seu desktop num lap top ou numa caneta que projeta na parede. nem se isso está em cima de uma mesa ou numa espriguiçadeira acolchoada. sinceramente? chega de fazer mesa e cadeira, estou muito satisfeita com as que eu tenho em casa... o que me deixa trincada é o ambiente metafórico do windows, como se "o computador" (como chamar essa coisa que habita o computador, que não é só a internet, mas tbm os softwares, os documentos criados e arquivados, mas que tbm não é o físico, o hardware, é o fluxo de informação mesmo...?) só pudesse ser compreendido se fadado à eterna sina de travestir-se de objeto familiar do homem moderno.
e essas representações são tão bruxuleantes quanto as sombras platônicas que nunca se comparam aos originais, às idéias, aos conceitos. mas "o computador" tem um potencial tão maior. o que causa em mim essa mutação, esse novo ramo da arquivologia, essa nova habilidade de categorizar e organizar coisas. exatamente por que não são mais coisas, são idéias coisificadas na tela. 


adiós descartes, finalmente podemos dispensar-te!  

entre moldar e prever o futuro


li num artigo que o design é uma atividade que pretende imaginar o futuro. reação imediata: discordo! design projeta o futuro, um projeto de design é a determinação (formal) de algo que será, que virá a ser a partir dessas especificações.

dirão que design é também projetar para o futuro. lançar um objeto num outro meio, meio esse que não se conhece ainda e que se pretende adivinhar. mas o objeto integra o meio e o modifica. assim, o objeto projetado reage ao meio mas também o transforma.

domingo, 28 de setembro de 2008

de chegar em casa com os olhos borrados de rímel e o coração murcho da decepção da festa.

me dá vontade de fazer outras coisas, de estar ao mesmo tempo em quinhentos outros lugares. ver o fogo queimar numa fogueira em frente à barraca, fumar muitos cigarros em um daqueles cafés simpáticos, dançar tango na praça com os velhinhos, ir ao parque, flutuar pelas bibliotecas.

sempre me vêm as mesmas idéias e me sai o mesmo texto.

é um mundo de egoístas este em que vivemos. mesmo todos juntos na festa, são pessoas sozinhas, divertindo-se na exposição de sua solidão ao grupo. cantamos alto, bradamos as letras e as melodias, mas cada um em seu compasso.

encontro uma coleção de pessoas interessantes toda vez que saio de casa. os encontros e as apresentações. todos sabemos ser muito simpáticos. mas nossa solidão é longa, extensa, espaçosa. na lapa lotada de sorrisos sinceros, somos na verdade enormes bolhas de toda a cidade de diâmetro. 

já ninguém se entrega mais. nos explicamos. um esforço hercúleo de se abrir, de se expor, tanto medo. já ninguém mais se apaixona. já ninguém se envolve de verdade. ficamos juntos enquanto quisermos as mesmas coisas, mas não se prenda a mim que eu posso ir a qualquer momento.