Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Sabe uma coisa que me incomoda?

Ninguém passa 2 anos e meio solteirando pelo rio de janeiro impune e indolorosamente. A gente passa por tanta coisa maluca e esquisita e tem que aprender a se afirmar e se bastar e se articular de maneira tão independente...

A gente sente isso forte quando conversa com alguém que vive uma realidade completamente diferente. Um casal por exemplo. Não de namorados saltitantes frequentadores da lapa, imagine uma pessoa solteira conversando com um casal desses casadíssimos, que curtem casas em itacoatiara, plantas, clima bucólico. Imagine uma pessoa solteira explicando pro pobre casal espantado os motivos pelos quais gostaria de morar "mais para o centro", ou seja, no meio da confusão urbanóide mesmo.

Pior ainda é conversar com uma outra pessoa solteira, potencialmente interessante, e causar-lhe assombro ou repulsa com a falta de delicadeza das palavras e dos raciocínios, principalmente no que se refere à selvageria das relações entre solteiros lá fora. Sim, porque mesmo quando passam a noite acompanhados, solteiros são solteiros 24hs por dia até que se prove o contrário, ou seja, até que sejam parte de um casal. E solteiros, não importa se estão entre amigos ou assumidamente à caça, solteiros estão sempre alerta, porque estão sempre por sua conta e risco, estão sempre sozinhos. E solteiros, desses muito solteiros mesmo, quando estão entre amigos solteiros, quando falam de sua vida de solteiros podem assustar.


Em inglês, solteiro é single. Single em português também é singular. Singular, único, um só.


A gente adquire cada mania... a gente se acostuma. Acordar e dormir, ficar três dias seguidos sem dirigir a palavra a ninguém quando não se tem aula ou trabalho. Nem se olhar no espelho. Ocupar a cama de ponta a ponta, comer de um jeito esquisito, assoar o nariz e largar os papéis pela casa inteira. Se submeter às maluquices dos outros solteiros que às vezes acabam passando a noite na sua casa etc.


A gente se acostuma a falar no singular o tempo todo. E é uma das piores coisas do mundo, ser sempre eu vou, eu quero, eu acho, eu gosto e nunca nós gostamos, nós achamos, nós queremos, nós vamos...


É complicado que do lado de cá, a grande maioria não está afim de passar pro lado de lá. Do lado de cá tá todo mundo arreganhando os dentes e as unhas mesmo, assumindo a missão de cada sexta feira, aumentar as opções do caderninho sem se deixar envolver por mais que uma diária. De manhã é cada um pro seu lado e beijo na bochecha.


E eu vou me despedindo de 2008 lentamente. Já que à meia noite do dia 31 eu não vou ter ninguém tão especial assim pra me dizer coisas bonitas e promissoras para o ano novo, me assumo enquanto solteira clássica e vou passar por todo o processo e fim de ano das pessoas solteiras, retrospectiva, pensar nos que vieram e nos que foram, na bagunça emocional.


2008 foi o ano mais solteiro da minha vida. Não deu pra chamar ninguém nem de peguete. Um fim de semana com pastel na feira foi o máximo que rolou. Mas teve uma quantidade razoável de histórias pra lembrar, se isso vale de algum consolo. Um amor platônico irracional, um cara que perdeu a graça da noite pro dia, um ex-namorado paranóico, um sujeito pirado que não dizia coisa com coisa, fora uma ou outra trepada ocasional ainda menos significativa.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Que em 2009 não nos falte nada



Semana passada a cidade nos violentou. Contávamos já com um amanhecer romântico, uma última chance de paixonite do ano e quem sabe pelo menos um sábado preguiçoso cheio de sorrisos, mas ao invés disso levamos um susto, depois a raiva, a indignação, o constrangimento, o medo, a despedida de silêncios desconfortáveis. Semana passada a cidade nos levou muito mais que uns trocados, um telefone e um maço de cigarro.


Eu volto sempre à mesma posição, aqui nessa cadeira, olhando por essa janela, o rio de janeiro não é aqui, o rio de janeiro é lá fora onde eu mesma não vejo mas sei que é muito intenso.


Você, de alguma forma, também não está no rio de janeiro. não adiantaria sair por aí te procurando, você também se assustou com a cidade e se recolheu. 


Que venham então as viagens, viajemos pra longe até que deixe de parecer um pesadelo. Porque nisso eu ainda discordo de você, não é acordar e pensar que foi um pesadelo, é passar por cima até do pesadelo.
O tempo é muito maior que a gente, o tempo e o espaço combinados então, podem te revolucionar os sóis. Quem seremos daqui a um, dois, quem sabe quantos meses, até que nos vejamos de novo? Será por vontade ou por acaso contrangedor ou por feliz coincidência? Que nos veremos é certo, afinal, ao sair eu da minha e você da sua toca, ainda estaremos no rio de janeiro, no mesmo rio de janeiro que às vezes nos abusa, às vezes nos dá volta, às vezes nos dá pena, mas que em geral nos apaixona. Mas não se pode prever quem seremos, parte de que seremos, a que ou quem pertenceremos.



Teria sido bom, eu acho. Teria sido melhor que acordar só num sábado cinzento, que dirá então quanto melhor seria que acordar e lembrar do que de fato foi. Infelizes coincidências de vírgulas, de intromissões, de desvios, que nos obrigou a deixar algo faltando. 



Não fomos os únicos a sentir faltarem coisas em 2008. Pra todos os lados que eu olho 2008 foi um ano de grandes perdas, de coisas que ficaram faltando.

E agora vem o turbilhão das festas, das praias, dos transatlânticos, dos fogos de artifício, dos alulcinógenos, das batucadas, do povo cantando ladeira acima e abaixo, das paixões irresponsáveis em língua estrangeira.

Mas se daqui a algum tempo, quando voltarmos ao rio de janeiro, ou quando o rio de janeiro voltar ao normal, se acharmos que isso que ficou faltando ainda parece uma boa idéia, faço votos de que em 2009 não nos falte nada.


quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O sofá da amiga

Segundo ela, a ética - racionalizada, aprendida, vivenciada - às vezes se sobrepõe às vontades das emoções e dos sentimentos.


Segundo ela, depois que nos despimos dos joguinhos, das ceninhas, dos papéis, dos personagens, desvelamos os véus que turvam as coisas e as máscaras caem. A verdade inunda nosso olhar e a realidade está lá. Branca. E às vezes a realidade é ridícula demais, ou cretina demais, ou pervertida demais, ou cruel demais, ou irracional demais, ou egoísta demais. Sentimos curiosidade, repulsa, paixão até, mas nunca nos deixamos envolver por completo naquilo porque vamos sempre olhar de fora, de cima, para nunca perder o controle, nunca se deixar levar no fluxo das coisas porque nós vemos as coisas e vemos o fluxo.

Segundo ela, nos sentimos às vezes tão especiais e tão lúcidos e tão responsáveis por todos os nossos atos que não nos permitimos falhar de maneira nenhuma. E se falhamos entramos em pane ou surtamos, incapazes de lidar com as falhas. Ou leva-se às últimas consequências ou se abandona por completo e bloqueia imediatamente depois da decepção derradeira.


E então passamos a observar tudo com um olhar tão cético, e ao mesmo tempo que se exige tão justo, que entendemos todos os pontos de vista e todos os comportamentos se tornam compreensiveis. E também por isso nos obrigamos a sacrifícios absurdos, nos submetemos a situações as mais adversas. Se não é a repulsa completa por aquilo com que discordamos, é a compaixão auto-destrutiva por aquilo que nos fere mas compreendemos e nos obrigamos a salvar.

E fica difícil ser justo consigo mesmo quando se passa o tempo todo se obrigando a ser justo com o mundo inteiro.



Segundo ela, o olhar clínico não pode nunca trazer a felicidade se não se aprende a amar justamente as fraquezas, as pequenices, as agressividades defensivas, as descarrilhadas desesperadas. 



Segundo ela, é muito mais fácil assumir a máscara e agarrar-se a ela do que agarrar-se a seus princípios ou vontades sinceras.



Segundo ela, segurança é coragem de ser honesto e de demonstrar as paixões, as incertezas, as inquietudes, a felicidade, a ansiedade, a euforia, a inveja, a tristeza, o orgulho e o orgulho-ferido, e até mesmo a insegurança.



Segundo ela, talvez não devêssemos olhar tanto para as características ou ações esperadas x demonstradas de alguém mas sim como esse alguém te faz sentir, principalmente a maior parte do tempo e não nos momentos especiais pra bem ou pra mal. 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Almodovariano



O Caetano Veloso arrepia os pelos da bunda de qualquer um.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

me dá enjôo

ele achou interessante eu dizer que tenho uma psicóloga. ou engraçado. ou bonitinho. ele s0rriu, ou pela psicóloga em si ou pelo meu comentário. ele soriu  e me deu raiva.

quer saber? tive vontade de mandar à merda. e mando mesmo. à merda, você com seus risinhos, com seus comentários ambiguos, com suas piadinhas incrivelmente sem vergonha. vá à merda com essa sua cara de pau de querer deixar todas as menininhas sem reação, sabendo que não vai acontecer nada, porque a gente ri de volta e você de quebra ainda se sente gostoso e arrebata o coração de uma ou outro de vez em quando. me pergunto se com eles você também faz isso se puder.
é o fim da picada que no meio disso tudo, dessa avalanche de coisas que nao deixam a gente respirar, que me deixam tremendo tomando café sem açucar e precisando de sessões extras de análise pra tentar descarregar, eu ainda tenha que achar espaço pra isso.



não sei se é ele ou se é a situação, se é que pode haver alguém fora de alguma situação. Não sei se é o sorriso, se são os comentários cretinos, se é a admiração por algum modelo ou o personagem completo, mas você me perturba muito. 

Eu queria nunca mais ter que pisar lá. eu queria não ter que lidar com o fato de que você existe, que você me disse as besteiras que disse sem saber o efeito que provocava e eu deixei isso acontecer, eu alimentei isso animada, eu alimento agora, escrevendo isso tudo. Mas comigo é sempre assim, as coisas que eu preferia não ter que lidar são as que eu não páro de pensar e escrever sobre.


Tudo o que realmente acontece, acontece nos espaços em branco. 



Me dá enjôo isso tudo. Pensar que o quadro pode ser muito mias sórdido que eu imagino. ou pior ainda, pode ser muito mais simples e eu posso estar só, como sempre, exagerando. mas há o quadro, fora da minha cabeça? Existem os fatos ou tudo que há são minhas reações a eles?



A realidade no momento me parece um tanto quanto duvidosa.  Por favor, não a torne mais confusa.
  

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Tempo de Amor (Samba do Veloso)

(Baden Powell e Vinícius de Moraes)

Ah, bem melhor seria 
Poder viver em paz 
Sem ter que sofrer 
Sem ter que chorar 
Sem ter que querer 
Sem ter que se dar

Mas tem que sofrer 
Mas tem que chorar 
Mas tem que querer 
Pra poder amar

Ah, mundo enganador 
Paz não quer mais dizer amor

Ah, não existe 
Coisa mais triste que ter paz 
E se arrepender 
E se conformar 
E se proteger 
De um amor a mais

O tempo de amor 
É tempo de dor 
O tempo de paz 
Não faz nem desfaz 
Ah, que não seja meu 
O mundo onde o amor morreu

***

Eu não costumo postar nada que eu não tenha escrito, mas pra quem tem pensado tanto sobre envolver-se, ou permitir-se, ou deixar-se levar, ou conformar-se, ou esquecer, ou querer ou não cada uma dessas coisas... eu não poderia escrever nada melhor que o vinícius já escreveu.

***

Ah, mundo enganador 
Paz não quer mais dizer amor

Ah, não existe 
Coisa mais triste que ter paz 
E se arrepender 
E se conformar 
E se proteger 
De um amor a mais

domingo, 30 de novembro de 2008

todas as noites voltava para o mesmo quarto
sete, dez anos depois, dois apartamentos depois, todas as noites o mesmo quarto
as mesmas angústias no papel, os mesmos medos
novos rostos na alegria e na tristeza
os mesmo apelos

todas as noites o mesmo quarto
a porta fechada, a chuva ventando na janela

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

dor não se mede

Outro dia me disseram que pior que crescer sem pai é crescer com um pai que não te ama. Concordei de imediato. Certamente, muito pior. Mas depois pensei calmalá, não é bem assim.

Eu não sei o que é crescer com um pai que não te ama. Também não sei como é ter uma família desestruturada que briga o tempo todo, como é ser filho da falsidade de um relacionamento de aparências, como é ter todo o dinheiro do mundo e ser uma pessoa triste, nem como é não ter dinheiro nenhum.

Mas eu sei o quanto doem em mim cada uma das minhas dores. Eu sei o quanto é difícil pra mim sair da cama e enfrentar o mundo a cada novo dia, eu sei o quanto é difícil assumir que os problemas existem, externos às dores, e nada pára pra que você respire.


Imagine uma criança que sempre viveu uma vida "perfeita", com todas as cntps controladas para que ela cresça saudável e feliz, sem decepções e sem ser mimada. Seus pais são carinhosos e presentes, mas passam pouco tempo com ela. Essa criança tem um cão que ela ama muito e que, este sim, é seu companheiro de todos os minutos. Um dia o cão morre e a criança experimenta com a supresa da primeira decepção a dor de perder a criatura que amou com toda a sinceridade. Se no mesmo dia um colega da criança perde um familiar, um irmão mais velho ou mesmo um dos pais, seria justo ele querer convencer a criança e o resto do mundo de que sua dor é maior? Mais que isso, seria cabível pra alguém comparar as duas dores? Racionalmente, é provável que muitas pessoas afirmem que a dor de perder um parente próximo é muito maior que a de perder um animal de estimação, inclusive pessoas que tenham vivido as duas experiências provavelmente testemunhem essa visão da questão. Mas voltemos pra criança que nunca tinha passado por nada parecido. Não faria diferença nenhuma explicar pra ela que outras pessoas passam por situações muito piores e que ela não deveria ficar tão abalada. Seria desrespeitoso ao extremo querer convencê-la de que sua dor não é tão grande.


Ninguém tem o direito de dizer que sua dor é maior ou menor. Assim como ninguém pode se vitimizar perante o mundo argumentando que teve uma história difícil, ninguém deve se sentir culpado por sofrer por motivos que pareçam pequenos para alguém. Ninguém tem o direito de julgar os problemas dos outros nem de condenar a maneira como se lida com eles. Não podemos dimensionar aquilo que não se pode tocar, que não se pode ter contato algum senão o relato. Não podemos nos "carregar" com um repertório de experiências para compará-las em intensidade. E não podendo conhecer as experiências dos outros, podemos apenas comentar as nossas próprias e entender que dói em todo mundo, e pra cada um o máximo é o máximo que ele conhece.


Em relação a nossas dores, estamos realmente sozinhos. Cada um tem que aprender a lidar com elas dentro de si e organizar-se para lidar com o mundo. Mas temos uns aos outros para fazer isso juntos, para nos apoioar-mos mesmo sem entender o que se passa do outro lado. 




terça-feira, 25 de novembro de 2008

sabedoria amiga


"eu aprendi uma coisa qdo era mais nova q eu nunca esqueci
a gente ensina o q mais precisa aprender. o q a gente repete repete repete criticando nos outros é o q a gente precisa melhorar dentro da gente"


that's what she said

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

não tão invisível?

Não pare.

Assombrar não é sinônimo de incomodar. Tem fantasmas aos quais a gente se apega. Saber que vc está mais pra opção 6 ao mesmo tempo tranquiliza e quebra um pouco do encanto. Agora q vc disse com todas as letras que não quer me comer e que me conhece pessoalmente, a maior parte da ansiedade sumiu, sobrou só curiosidade mesmo.

Vc deve ser alguém parecido comigo, enfim, pra ter tempo e paciência de ler tudo o que eu escrevo. Achei lindo vc dizer que se apegou ao blog. Fico contente com os comentários. Só escrevi aquilo tudo pra expressar o fato de que da situação ninguém-me-lê-nunca pra um-anônimo-que-me-lê-sempre as coisas mudaram. Mudaram ponto, não disse que foi uma mudança ruim.

 

filhos saudáveis

"Mas alguém que te ame, que possa te oferecer companhia para desbravar esse mundão que você busca descobrir e apreciar cada detalhe, que queira compartilhar uma vida, uma casa aconchegante, ter uma família linda, com filhos saudáveis."

É isso. vc me conhece, né? não sou só eu que me exponho no texto, vc me conhece pessoalmente. não tem nenhuma foto lincada com esse blog que mostre o gato, vc nao falaria do gato da Alice a toa.

Então, tá ficando engraçado isso. eu já sondei todas as pessoas possíveis. andei interrogando meus amigos: é vc meu anônimo? a grande maioria nunca nem entra no blog... realmente não sei quem é vc. é meio estranha a sensação. Eu tenho essa coisa de sentir os lugares na internet como lugares físicos mesmo, não sei se vc sabe... agora parece que você é um fantasma assombrando isso aqui. e agora quando eu mesma entro no blog (pra escrever alguma coisa) não fico 100% à vontade, pq tem alguém aqui. vc virou uma entidade que habita o lugar. um posseiro.

sabe que passou pela minha cabeça abrir um blog anônimo pra comentar a história do meu anônimo? mas achei que era esquizofrenia demais. vc podia fazer isso, se quiser, escrever um blog sobre a experiência de quem está do outro lado. aliás, vc devia começar um blog anyway, pra pelo menos eu poder entrar lá e te assombrar tbm e a coisa ficar mais justa!

Mas porque um fantasma, perguntarão, pq ele te assombra? Bem, mais ou menos o seguinte: meus amigos que leram os comentários até agora ficaram ou surpresos com o fato de serem praticamente novos posts (1) ou disseram que você quer me comer (2). eu estou convencida de que você me conhece (3) e/ou que você quer que eu te coma (4) e existe a possibilidade de que você seja uma pessoa fanfarrona - que me conheça ou não - (5) e que esteja se divertindo com isso. ou a versão menos orquestrada e matematicamente mais provável de todas, de que você seja uma pessoa aleatórea, talvez que nem tenha nada a ver comigo e que ao vivo seria totalmente invisível ou incompatível (6).

Não posso ter certeza de que você seja nenhuma dessas pessoas nem de que você não seja qualquer uma delas. O que pela primeira vez me põe pisando em ovos antes de escrever alguma coisa. esquisito...

ps: vc ganhou uma tag, pra facilitar a vida de quem quer acompanhar. ;)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

despedida

os dois estão abraçados na saída da festa. moram cada um para um lado, dessa vez não voltam pra casa juntos. se despedem com um beijo esquisito na bochecha, como quem está na dúvida do que é o beijo, ou de onde fica a bochecha.

o que foi isso?
ele murmura qualquer coisa ininteligível pra variar e diz que hoje não é um dia bom.
tudo bem, eu só queria saber se tem alguma coisa acontecendo ou se a gente só se pegou naquele dia. 
de novo alguma coisa ininteligível.
eu acho que você é um cara muito maluco.
sim.
mas eu também acho que você é um cara muito legal.
simsim.
só queria que você soubesse isso.

***

foi sincero, e portanto foi muito bom falar. que eu disse claramente, tenho certeza. se ele entendeu? vai saber, acho que ele nao entende nem o que ele mesmo diz... será que alguém entende?

agora vem a parte que eu não falei, mas que voltei pra casa torneando, esculpindo, lapidando.

***

mas eu acho também que você é um cara muito legal.
simsim.
eu não sei que momento da sua vida é esse que você está enfrentando. algo me diz que não é um momento fácil, que na sua vida nada nunca deve ter sido fácil, que deve doer muito. em mim dói também, o tempo todo. mas eu posso estar aqui pra você, pra olhar você, pra fazer carinho na sua cabeça antes de dormir, pra segurar sua mão, pra te abraçar de noite quando você estiver sentindo vontade de sair voando pela janela.



não é que eu ache lindo toda vez que eu conheça uma pessoa problemática. nesse ponto eu nunca fui mesmo muito altruísta, às vezes até eu pulo fora mesmo. mas tem alguma coisa com esse cara, alguma coisa poética na maluquice dele. fico no mínimo curiosa. 

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

ansiedade, curiosidade

é engraçado isso, eu aqui publicando do alto do décimo primeiro andar, achando que nunca ninguém vai parar pra me ler.

aí alguém pára e lê. e comenta. e eu gosto dos comentários, por isso os comento. 

hoje é véspera de feriado e eu estou trancada num quarto sozinha, experimentando todos os temas novos do gmail. o tédio desfila de tamancos pela casa, dá piruetas em volta da minha cama. eu acendo um incenso, um cigarro, abro um livro, acho a introdução chata, procuro alguma coisa na geladeira, procuro um jogo na internet, faço as contas de que horas eu tenho que acordar, que horas é razoável ir dormir, refaço a lista mental de todas as pedências e me martirizo, pela quinquagésima sétima vez no mesmo dia por tudo aquilo que eu tinha que fazer, que eu gostaria de estar fazendo e que não fiz ainda. a preguiça se espalha pelo chão do quarto e zomba de mim quando eu levanto, dou três voltas pelo apartamento, volto pra cama e acendo de novo o cigarro.

hoje é véspera de feriado e eu estou trancada num quarto sozinha escrevendo sobre isso.

nem em pergunte onde eu queria estar. podemos passar a noite respondendo a essa pergunta, na realidade é isso que eu faço dentro da minha cabeça o dia inteiro. se me pedirem pra relatar, podem escolher entre a versão plausível, que se passa num apartamento com um rapaz nada simpático que eu conheci outro dia, a versão sórdida, que se passa no apartamento de um homem misterioso, a versão romântica, que envolve meu resgate da monotonia por um príncipe encantado que me leva desse mundo absurdo pra viver com ele num lugar maravilhoso cheio de livros e onde eu posso acordar tarde e não pensar em dinheiro e a versão utópica, em que tudo continua exatamente como está, mas fazendo sentido e aí eu consigo finalmente sair do lugar de verdade.

é, ansiedade, curiosidade, vontade de saber quem escreveu. se é alguém a uma distância curta o suficiente que também esteja entediado e queira descer ali e tomar um chope ou se é alguém a muitos e muitos quilômetros de distância e que se for bem humorado vai começar a deixar mais comentários até isso ficar realmente divertido. em breve esse alguém vai começar a virar um personagem, ou vários. pode ser que a cada comentário eu invente que esse anônimo é alguém. pode ser que pra variar um pouco eu idealize esse alguém e o ame no meu mundo de fantasia em que ele um dia se revelará.

ou pode ser que amanhã um colega meu comente, po cara, fui eu que deixei o comentário, não precisava criar todo esse caso, nao era nada demais. 

qualquer comentário anônimo ou assinado, qualquer olhar, gesto, insinuação, qualquer migalha de atenção que me dirijam vira tema para a fantasia. no fim das contas eu sou só uma pessoa entendiada, que gosta da sensação de digitar no seu lap top e passa o dia inteiro inventando o que escrever pra não lembrar das trocentas outras coisas que devia estar fazendo enquanto estou aqui brincado de colunista. 

terça-feira, 18 de novembro de 2008

queridinha, de tchekhov


"Ólenka estava sempre amando alguém e não podia viver sem isso"

Minha identificação com a personagem de Tchekhov foi imediata.


"Precisava de um amor que tomasse conta de todo o seu ser, alma e entendimento, que lhe infundisse idéias, desse um sentido a sua vida, aquecesse o seu sangue, que envelhecia"

queridinha, Ólenka, tem 4 amores durante o conto: 2 maridos, 1 amante e 1 menino a quem quer como filho. e só nesses momentos ela é feliz, plena. quando ela está sozinha, está sempre calada e triste, nao tem opiniões, não tem vontades. quando ama alguém, ela adquire todas as preferências, interesses e opiniões do ser amado.

hoje mesmo, mais cedo, eu estava conversando com uma amiga sobre uma coisa que percebi. para mim existe uma clara distinção entre o "mundo real" e os relacionamentos. são duas histórias paralelas de que sou protagonista, são papéis diferentes que eu desempenho em cada uma , são compartimentos separados da minha vida. lógico que isso tudo só existe dentro da minha cabeça, mas existe alguma coisa no mundo que na realidade não exista só dentro da minha cabeça?

no caso de queridinha, o  "mundo real" está completamente subordinado ao relacionamento amoroso. não importa onde, nem quem, nem sob que condições, importa amar. todo o resto vem a partir disso, vem de acordo com a vida que esse amor permite. 

é assim que eu me sinto desde nem me lembro quando. e assim como queridinha, sempre que não amei ninguém faltou algo, faltou chão.

mundo real hoje é muito maior que era numa cidadezinha na russia no fim do século xix. o meu mundo real é o mundo inteiro. pode nao ser a realidade, mas a sensação é que todos nós podemos ser qualquer coisa. o self-made man pode ser um mito, mas é um mito em que acreditamos de um lado  por esperança, do outro por desespero.  mas o mundo inteiro é muito grande e pra muitos de nós o susto de escolher uma carreira dentre as tantas opções do vestibular não passa mesmo 5, 10 anos depois. o que fazer com o resto da sua vida é uma decisão assustadora. e a angústia dessa dentre tantas outras escolhas me assombra constantemente.

mas de alguma maneira, estar com alguém ou ter alguém com quem se queira estar é um funil pra essa amplitude do mundo. quando se pode estar em muitos lugares, alguém querido é um bom motivo para estar em um lugar específico. se conheço alguém e acontece o clique, faço de tudo, tomo esse envolvimento como referência para todas as decisões e encaminhamentos.

se queridinha, como aponta o psicanalista Guilherme Gutman vive na realidade um relacionamento dela com o amor em si, nao com os amantes, essa é talvez nossa principal semelhança. sempre tive essa percepção clara sobre meus relacionamentos: o importante é amar alguém, nao importa quem, nem onde, nem sob que circunstâncias. lógico que não ao pé da letra, lógico que ninguém está aí pra todo mundo, mas aí vai do clique.

o mundo é muito grande e, principalmente, muito absurdo. amar é uma das poucas coisas que fazem sentido. é um bom motivo.

domingo, 16 de novembro de 2008

lanchinho da meia noite diz:
todo mundo tem um passado obscuro

lanchinho da meia noite diz:
acho digno

lanchinho da meia noite diz:
se alguém se esforçar muito pra hackear vc

lanchinho da meia noite diz:
merece descobrir alguma coisa interessante
o relacionamento imaginário começa a ficar sério quando vc briga e faz as pazes sem o outro saber.
Porque tens esse livro?, ela perguntara.

Ele disse que estudara neurociência por muito tempo. Porque, quando? Por interesse próprio, respondeu, porque percebi que eu sou o meu cérebro, por isso para entender-se, decidira entender como o cérebro funciona.

O sorriso dela àquela resposta, por mais cor de rosa que tenha parecido para ele, era apenas uma manifestação contida da enorme satisfação que sentia. Mais ainda do que quando soubera que ele também frequentava a psicanálise.


O conhecimento de si mesmo era uma das virtudes que ela mais admirava. E tanto maior o esforço empenhado nessa direção, maior o valor que reconhecia.



Antes de dormir há uma eternidade

Várias vezes eu já sonhei que meu cabelo ficava liso, que meus dreads se desfaziam e o cabelo voltava ao normal. Essa noite isso acontecia e acontecia por vontade e iniciativa minha. Eu , não sei como, com um pente acho, liberava os fios dos emaranhados e deslizava feliz os dedos entre as mechas lisas. A sensação é estranha, boa para os dedos, mas eu mesma sentindo ao mesmo tempo alívio por estar tudo bem e decepção por perder os dreads.



Ontem à noite eu demorei pra pegar no sono. Acho que se eu disser curto e grosso vai ser menos constrangedor: tenho medo do escuro. É um medo estranho, que não se manifesta sempre e que vem em graus variados. Ontem às 4 da manhã quando eu fui me deitar ele veio com tudo e eu tive que acender uma luminária pra dormir.



Me dá aflição a porta do quarto aberta, por isso sempre tranco. E também me incomoda o vão escuro da entrada pro banheiro, por isso fecho essa porta também. E mesmo com ambas as portas fechadas, eu não consigo dormir sem um lençol, um edredom e/ou alguns travesseiros protegendo minhas costas. É curioso que nunca tenha me incomodado muito a janela, mas até ela me dá aflição em certos dias. Quando eu era pequena, costumava construir essa barreira de travesseiros, almofadas e bichos de pelúcia ao meu redor na cama pra me proteger quando dormia na casa da minha avó. Na minha casa eu tinha um urso de pelúcia do meu tamanho que era o jeito mais realista de dormir de conchinha com alguém pra uma criança. Não foram poucas as vezes que eu fantasiei narrativas longas e complexas pra criar personagens que dormiriam comigo aquela noite, protegendo as minhas costas. Na casa do meu padrasto eu sempre dormia com a luminária acesa no quarto. Às vezes eu levava um colchonete pro outro quarto e dormia do lado deles. Na minha própria casa eu dormi na cama com a minha mãe por anos. Mas se eu durmo sozinha, o menor barulhinho que coloca alerta e por isso eu levo horas pra pegar no sono. O pior dia do ano quando eu era criança era no aniversario da minha mãe, que coincide com a festa de São Jorge e eles iam jantar/dormir fora e eu ficava apavorada com os fogos de artifício debaixo as cobertas.

Quando eu era criança eu me lembro que alguém me explicou como era o céu ou como eram os anjos da guarda, etc. Então antes de dormir eu apelava pra esses agentes celestes e imaginava anjinhos delicados de asas fofinhas rodeando minha cama, me protegendo. Me protegendo de que?

Sempre a sensação de que alguma coisa vai sair debaixo da cama e me encostar. De que alguém vai esgueirar pela porta, entrar no quarto, vai me tocar, vai falar comigo. Não é medo do que vai acontecer depois. É medo do susto, de se deparar com uma pessoa morta, um ser não-vivo. O mesmo medo de chegar em casa e encontrar alguém desfigurado, de que o cachorro do vizinho fosse pular o muro e me atacar (e por isso eu colocava coisas pesadas fechando a porta do quarto quando estava sozinha em casa). Medo de que a minha mãe não fosse voltar pra casa nunca, de que ela fosse atropelada ou esfaqueada ou levada embora. Os medos variavam entre sensações angustiantes abstratas a imagens muito claras e mórbidas, sejamos sinceros.




Escrevo isso tudo porque acho salutar lembrar. Botar pra fora os fantasmas e exorcizá-los. Não é fácil pra ninguém olhar nos olhos das figuras encapuzadas que o assombra e perguntar de onde elas vieram. Mas é preciso fazê-lo, é preciso pensar conscientemente nesses medos que se manifestam quando cada um está sozinho, em ações automáticas, reflexos espontâneos e que nunca se fala deles.




Não preciso acrescentar que nada disso aparece quando estou à vontade na companhia de alguém, né? Que por mais que eu tenha um monte de manias de solteira que nunca podem ser reproduzidas diante de outra pessoa, é quando eu durmo à vontade ao lado de alguém que eu durmo mais à vontade. Nenhum fantasma aparece, o corpo relaxa completamente e os sonhos fluem, ricos, criativos. Não nascemos pra dormir sozinhos.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Anônimo disse...

quem deixa comentário anônimo, gente?

logo comigo?


a gente fica tentando decifrar no texto, no uso de uma abreviação ou de uma expressão mais incomum, no tom... aí a gente cogita as possibilidades, as figuras que eu sei que passam por aqui de vez em quando. quem não se identificaria, pelo menos no tom? e se for alguém que passa por aqui e eu nao sei?


o estranho é que deixaram um PS. Eu tb estava pensando nisso há uns tempos...


prefiro achar que tenha sido alguém recorrente e avoado que só esqueceu de assinar.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

só um fotógrafo compartilharia da minha emoção ao abrir as cortinas. uma luz amarela, um céu amarelo. as nuvens agora já cobriram tudo e então ficou tudo branco, mas antes era esse amarelo incrível.


aí eu ponho as mãos na testa e me pergunto o que raios eu estou fazendo? é a pergunta que me faço há dias e que me travou e eu nao consigo fazer mais nada além de assistir sex and the city e pensar naquela criatura. é uma sensação tão estranha. todas as suas convicções de repente escorrem geladas pelos dedos surpresos e vem tudo outra vez, a vontade de empacotar a vida e sair correndo, fugir pra outro país, começar do zero, mudar de nome. e lá vou eu tentar falar disso na análise. nem falar não dá. o assunto em si é escorregadio, não consigo descrever pra ela como eu me sinto, fico ali fazendo cara de boba, não dizendo coisa com coisa.

a algum lugar eu cheguei. num dado momento eu viro pra ela e digo que deixo a bagunça chegar ao extremo, que deixo o caos se instalar antes de me incomodar em arrumar. espero não ter mais prato pra usar antes de lavar a louça. não ter mais lugar pra sentar antes de guardar as roupas. deixo o cinzeiro encher até a boca. não é só com o meu quarto que eu faço isso. é tudo, é uma inércia gorda e imensa que me dá sono, muito muito sono, toda vez que eu penso no futuro e não vejo fogos de artifício, toda vez que eu estou temerosa ou insegura, parece que é tudo um grande desperdício de tempo e talento, mas não tenho ânimo pra fazer nada.


uma vontade incrível de ir pra europa assim que sair o passaporte. ou de ir pra outra cidade e arranjar um emprego. ou de começar minha empresa aqui. ou de aprender milhões de programas úteis, ou de ler tantos autores importantes, um monte de possibilidades interessantes para os projetos, esperando para serem executadas. as idéias esperando no limbo, as viagens, os livros que eu quero ler e que eu gostaria de escrever, tudo isso flutuando fantasmagórico do lado de fora. e aqui dentro só pensamos em se apaixonar, namorar, casar e ter bebês.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

nunca foi sobre mim. normal que você faça isso de vez em quando, todo mundo faz. mas só agora eu percebi, eu antes achava que era diferente quando era comigo, que você me via diferente. tudo bem, passou. acho importante entender que se o que eu sentia me parecia absurdo, é porque é absurdo mesmo, e se é absurdo eu mesma nunca ia levar a sério. ia sempre ser uma fantasia. melhor que fique no espaço da fantasia só então, honestamente. sem sofrer com isso. de vez em quando um sonho, acordar com o coração leve, de vez em quando um sorriso. mas um sorriso leve e não diferente de tantos outros.

domingo, 9 de novembro de 2008

2 considerações

a primeira é a seguinte: deveria ter um nome pra essa sensação, mais do que um sentimento, de estar com alguém e querer estar para sempre. dançando no meio do apartamento, na cama, ouvindo música, contando histórias. não é exatamente estar apaixonado. geralmente essa sensação acontece um pouco antes da paixão. geralmente é alguém que você praticamente não conhece, ou mesmo que conheça a muito tempo não conhece desse jeito, não conhece esses pedaços da vida, do corpo, do gesto. essa sensação geralmente acontece quando dois estranhos se surpreendem juntos com a química entre eles e com a compatibilidade de pensamentos e de preferências e de senso de humor e de ritmo. um fica admirado com o desempenho sexual, intelectual etc do outro e de repente se dão conta de que não conseguirão dormir um ao lado do outro. seus corpos não se deixam, os assuntos se emendam, a pele é macia demais, o cheiro é bom demais, o cabelo é fino demais. tudo é inebriante e irresistével, as mãos e as bocas não param quietas e o dia amanhece com aquela pessoa ao seu redor. você não quer voltar pra casa, não quer ir a lugar nenhum se não for com ela, você não quer nem pensar em segunda feira, você quer viajar com ela.
o cara é uma graça, a trepada é incrível, vocês mal se conhecem mas tudo o que dizem soa tão familiar que poderiam ter sido assim desde sempre. esse momentos são tão especiais que o tempo corre completamente diferente. o passado pode até vir todo pra cima da cama com clareza no discurso, mas nos atos, aquelas duas criaturas nasceram agora e tudo o que conhecem do mundo é um ao outro. não se sente ansiedade para absolutamente nada. tudo o que eu quero está aqui do meu lado. e isso é mútuo.
mas você em algum momento volta pra casa, seja 6 ou 36 horas depois e de repente se pega imaginando formas alternativas de relacionamento. porque aquela pessoa é incrível e você sabe que precisa encontrar uma maneira de ter um relacionamento com ela mesmo sem precisar admitir que é um relacionamento.
o que nos leva à segunda consideração, que na realidade é um questionamento: porque a gente de repente passa a ter a sensação de que não pode se apaixonar, de que tem que ser informal, natural, que as coisas têm que acontecer no seu tempo, de que tem que deixar rolar.... quando todos esses eufemismos significam exatamente o contrário?
porque a gente se sente tão à vontade pra se entregar a essa sensação incrível de estar junto e querer estar pra sempre, mas não tem conragem de passar disso? eu fico sempre achando que é porque ele não seria capaz, que ele não vai querer e eu vou perdê-lo, por isso tenho que me conformar com o pouco, porque temos que aceitar aquilo que o universo nos dá e não nos atormentar com o que não temos. sim, eu acredito nisso. mas não acredito que isso me exclua os desejos, os anseios. e de repente, assistindo a esse seriado genial sobre as mulheres de 30 e muitos que eu percebi. cansei dessa vida de adolescente. cansei dessa sensação de que falta alguma coisa, de que estou esperando alguma coisa, de que não é ainda a hora de dizer, porque não é ainda a hora de sentir.
quero ir além do fim de semana e além da sensação, quero poder inundar minha vida do sentimento de querer estar junto para sempre. quero gritar esse sentimento para o mundo e compartilhá-lo com alguém que também o sinta.

domingo, 2 de novembro de 2008

Acho que o que interessa mesmo é o pensamento crítico. Não saber os nomes pra saber citar os nomes. Nem necessariamente para produzir grandes conhecimentos em cima disso. Talvez nem mesmo estar sempre apto a dissertar sobre os temas. Mas por questões pessoais, como numa espécie de processo de análise e/ou terapia embasado em filosofia, sociologia e antropologia.


Mesmo que eu nunca cite com propriedade Barthes, Foucault, Deleuze, Derrida, Eco, Merleau-Ponty, Hanna Arendt, Debord, Certeau, Nietzsche, Sartre, Kant, Kafka, Camus, Cortázar, Lacan, Jung, Bourdieu, Baudrillard, Baumman, Heidegger, Habermas, Flusser, Adorno, Benjamin, todos esses nomes me páram toda vez que eu entro numa livraria. E eu quero passar tempo suficiente com cada um deles até que se tornem não familiares, porque isso já o são há tempo suficiente, mas realmene íntimos.


O que importa é poder citá-los para si mesmo, ser capaz de associar suas idéias àquilo que nos se apresenta como realidade. Tentar entender o que eles mesmos entendiam como humanidade.

talvez designer

Imersa no quase absoluto escuro, acesa apenas a tela fria do navegador, a fumaça se desenrolando cinza e branco no mar de preto. era preciso dar um novo ritmo às coisas, acalmar. olhar para as possibilidades e projetos, para as suas próprias convicções com mais calma e ponderação. ser mais comedida em suas afirmativas.

num par de dias a fruição acadêmica, a descoberta de abordagens e campos de estudo, a possibilidade de realizações, uma vontade nova de conduzir seus projetos, de fazer mestrado em design mesmo, quem sabe na puc...



há muito venho me propondo a trabalhar com pesquisa de usuários e inovação e estratégia baseadas em métodos qualitativos. cruza isso com responsabilidade social e sustentabilidade e chegamos a pesquisa e estratégia para o terceiro setor. tenho sim enorme interesse pelo terceiro setor inclusive por inquietações éticas. mas talvez... não necessariamente. também é grande a inclinação para o viés das ciências humanas, seja ele bastante acadêmico ou aplicado ao mercado. Na academia, tenderia até para filosofia, semiologia, pós-modernismo. na prática, uma postura certamente empreendedora, questionadora do sistema e comprometida com o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida. e talvez até o caminho seja mesmo da pesquisa qualitativa, não necessariamente apenas de design. mas também porque negar com tal veemência o design? a atividade de projetação às vezes é sim, bastante estimulante. me intrigam as interações, as novas possibilidades tecnológicas e a integração exponencial do homem com a tecnologia por ele mesmo projetada. a oportunidade de dar forma, de sistematizar e estruturar os objetos, os processos, os sistemas que estão por vir. e a área, como área de conhecimento, sem dúvida tem potencial para os pensamentos mais contemporâneos e até visionários. seja portanto como objeto de estudo, área de atuação prática ou fronteira profissional de frequentes parcerias, reconheço o apreço pela idéia de que o design esteja sempre visível em minha atuação acadêmica e empreendedora.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Sobre esse tipo de homem que sempre leva uma caneta consigo



Foi outro dia, na verdade de noite, em Santa Teresa, que eu reparei. Tava um amigo meu conversando com um cara e eu do lado, fingindo que tava escutando, mas viajando longe. Aí notei que o amigo do meu amigo tinha uma caneta (de desenho, pela tampa) na camisa, pendurada na gola. Achei curioso. Depois achei simpático. Depois entrei numa onda de que comecei a achar sexy. Aí ficou interessante.

Nunca tinha me dado conta, mas eu sempre reparo em quem tem caneta presa na camisa. Posso dizer cada um dos meus professores se usam caneta ou lapiseira, onde guardam, alguns eu posso até descrever a Lamy de estimação. Sei dos que têm tiques com a tampa da caneta, dos que rodam a caneta nos dedos. E se for pensar bem, nao deve ser uma coisa tão comum assim, reparar nas canetas dos outros.

Mas olha que coisa interessante, você ser do tipo de pessoa que se preocupa em sempre ter uma caneta a mão. Sair sem a caneta é pior que esquecer o relógio. Pra uma pessoa dessas, é ficar mudo, porque a caneta muitas vezes é a maneira como essa pessoa fala. E irão dizer ah, claro, são professores de uma escola de design, são designers, designers se expressam visualmente, desenham o tempo todo. Mas não apenas!

Pense em todos os homens alinhados nos clássicos cinematográficos, com suas belas e caras canetas de luxo sempre à vista no bolso. A caneta nesses casos é um símbolo de muitas coisas, de importância, de que aquele homem escreve, e que o que ele escreve tem grande valor. E de fato, muitas vezes esse homem só tira a tampa da caneta para assinar o nome, mas essa assinatura vale fortunas, vale a fábrica de canetas. Mas há que se pensar o porque a caneta é símbolo. Não é só por causa do valor da assinatura no contrato ou no cheque.

A caneta é, de novo, o símbolo de que aquele homem escreve. E que o que ele escreve tem grande valor. Mas primeiramente não pelo onde é escrito nem por quem é esse homem, mas pelo valor da palavra escrita. Que, na prática, se mostra na importância da representação gráfica espontânea para a comunicação tête-a-tête e para a credibilidade dos documentos. Friso espontânea pra lembrar que a boa da caneta é estar à mão a qualquer momento, em qualquer lugar, como uma extensão de si acessível sempre que necessária.

Há quanto tempo "todas as pessoas" escrevem? Há quanto tempo a alfabetização é direito de todo indivíduo e dever de todo Estado? Há quanto tempo existe tecnologia para que um instrumento de escrita manual com tinta permanente possa ser carregado no bolso? Que disseminação e agilidade isso confere aos processos, que dinâmica isso confere às relações?

Assinar um cheque, escrever no diário, anotar o telefone pra mandar pelo garçom, rabiscar garatujas, improvisar um mapa, dedicar um livro, deixar um bilhete. Há quanto tempo fazemos essas coisas?

Excelente objeto de estudo, a caneta. Um projeto de etnografia da sociedade pós-moderna. Proposta interessante mesmo.

Agora dá pra voltar e entender porque eu achei interessante o cara ter uma caneta? É reconhecer nele esse homem moderno, esse animal urbano apaixonante que é o homem moderno que me atrai.




Eu ando pra cima e pra baixo com um bloquinho de anotações e uma caneta na bolsa. Antes era uma lapiseira, mas eu descobri que caneta esferográfica boa deixa a mão correr mais rápido.

Mas acho que quando estiver mais barato eu vou trocar a caneta e o bloquinho por um palm, um blackberry ou o que o valha. E tomara que um dia eu possa pensar nas coisas e elas aparecerem numa tela portátil, sejam cores e formas ou verborragia, como agora. Mas sabe lá o quanto essas representações digitais serão diferentes da coisa tosca do desenho manual. E sabe lá o quanto isso tudo causa de diferenças no nosso pensar.

O que eu sei é que a caneta na camisa vai ser o charme de pouquíssimos. E vai simbolizar alguma outra coisa.


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

o rio de janeiro é muito intenso

não dá pra levar nada a sério...

domingo, 26 de outubro de 2008

Eu vejo essa foto, tirada há ... vai saber ... 30 anos? ...

é muito estranho olhar alguém que se conheceu há tempo suficiente para ter alguma intimidade e afeto, mas não para ser capaz de imaginá-lo 30 anos atrás numa foto como essa.

você é, hoje, exatamente o homem que eu queria para mim. talvez há 30 anos não fosse. me atrairia, mas talvez nem tanto.


todos nós envelheceremos. todos sentiremos o músculo murchar e a pele enrugar, o cabelo esbranquiçar, a voz rouquear. nao temo. aguardo esse momento belo, em que serei velha e bela e sábia e calma. assim eu olho para você, e gosto se posso te olhar de perto.

sábado, 25 de outubro de 2008

depois de ver O clube da luta pela 1ª vez

 André:  Acordada?
 eu:  sim
cheguei agora
to arrasada
 André:  Gente!
Pq?
 eu:  esse filme
acabou comigo
 André:  Eu vi. Vc ficou arrasada.
 eu:  mexeu em muitos pontos
 André:  Ele é foda mesmo.
 eu:  enfim
to aqui tomando coragem pra dormir
 André:  É, para designer de produto imagino qe pode mesmo ter sido uma porrdada.
 eu:  nao leve a mal minhas aparições
 André:  Nunca levo a mal.
 eu:  cara, nem me fale em design
to por aqui
rs
 André:  Ahahahahahahhaha
 eu:  aiai, preciso me formar logo
pra fazer mestrado
 André:  Vc tem muita coisa na cabeça. Isso é bom.
Vamos ver o que fará om isso.
 eu:  hahhaah
nao quero fazer nada com isso
o mundo seria um lugar melhor se todos nao fizéssemos nada
no sentido de fazer mesmo
 André:  Serás?
 eu:  tá cheio de coisas feitas
temos que desfaze-las
organiza-las
nos libertar de todas elas
precisamos de mais espaço
ai, to chapada
 Enviado às 05:18 de sábado
 André:  Estamos
 Enviado às 05:21 de sábado

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Fiquei com um carinha super fofo. simpático, bonitinho, cabelão, barba, tatuagens. nao tinha mais que 30. olhares, sorrisos, começamos a dançar juntos, nos apresentamos, nos pegamos, dançamos muito. onde vc mora, o que você estuda... todas as respostas corretas. rodopios, um clima bonitinho.


então um diálogo breve:

você vai pra onde depois daqui? vou pra casa, amanhã tenho aula cedo. 
hm. 
voce nao quer ir pra minha casa ou que eu vá pra sua? não, tenho mesmo que acordar cedo amanhã. 
hm. 
mas eu posso te dar meu telefone. 
uhm.

aí ele vira as costas e vai embora. assim. sem nem inventar que vai ao banheiro. ele simplesmente vira e vai.


preferi achar engraçado, achar que ele estava muito bêbado e não raciocinara quase nada em nenhum momento (inclusive nos bonnitinhos). mas aí bate uma certa indignação, se não com o carinha que podia ser tanto um canalha como o homem mais fofo do mundo completamente bêbado (isso ele estava, de qualquer forma), com a ironia da situação.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

todas as pessoas são a única pessoa do mundo

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

sobre nossos filhos

tava eu aqui pensando como eu gosto da minha mãe. e como eu acho que ela vai ser uma boa avó. e como eu vou sentir falta quando ela não estiver mais lá, mas o quanto ela vai em ajudar enquanto estiver...

aí me lembrei de uma coisa que eu tava dizendo pra uma amiga outro dia. que nós somos a geração que vai ver a mutação acontecer. mas nossos filhos é que serão realmente a primeira geração da mutação. nós vimos o computador invadir as casas e os celulares surgirem, ficarem leves, ocuparem todas as bolsas e tornarem-se o principal ícone de um estilo de vida. nossos filhos não serão capazes sequer de conceber esses processos.

um mundo sem computadores e celulares parecerá totalmente jurássico para nossos filhos. como no caso da menininha de 3 anos que levantou no meio do filme pra procurar alguma coisa atrás da tv. o pai achou engraçadinho e perguntou o que ela estava procurando, e ela respondeu "o mouse!". Ainda zapeamos muito a televisão, o computador às vezes é cansativo, poucos de nós ainda preferem descansar os olhos em um bom livro.

esses que estão por vir certamente desenvolverão outros olhos, terão potenciais diferentes diante da tela que encararão desde os primeiros anos de vida. não tenho nenhum dado sobre isso, mas acho provável que uma criança já aprenda a mexer no mouse antes de usar sozinha o peniquinho. lerão o hipertexto desde sempre, na educação fundamental inclusive. se alfabetizarão digitando antes mesmo do treinamento escolar. terão o google e o wikipedia como parceiros desde as primeiras ginganas culturais da colônia de férias via um aparelhinho corriqueiro.

honestamente, me parece assustador e fascinante o desafio que será educar essas crianças tão diferentes de nós, mas ainda assim compreensíveis. elas serão tudo o que hoje sonhamos ser, terão acesso ao que idealizamos por anos dos desenhos de hanna-barbera aos sucessos de bilheteria da ficção cinetífica filosófica.

mas eu me pergunto que família terão esses nossos filhos. me pergunto se serão capazes de conversar com sua avó, se ela será capaz de conversar com eles... se terão pais e primos ou se serão indivíduos vagando soltos, mochileiros cibernéticos sem sobrenome, googleIDs vagando pelas redes sociais sem nenhuma âncora emocional no mundo físico que os rodeia. quanto tempo passam os adolescentes hoje na internet, nos chats de bate-papo, nas redes de relacionamentos? quanto tempo passarão, desde a primeira infância, nossos filhos? quantos de nós passamos mais de nosso tempo livre isolados no trânsito, ou em diversões particulares, com nossos ipods nos ouvidos do que conversando com amigos? quantos amigos virtuais terão nossos filhos? quantas linguas falarão nossos filhos? quantas liguas serão faladas no mundo? serão essas linguas alfanuméricas?

nossa lógica ainda é muito ocidental, nós vimos cair o muro, caírem as torres, caírem as bolsas. nossos filhos, em que contexto político crescerão, de que tratarão suas aulas de geografia? que aulas de história serão dadas, hitória do mundo globalizado? como são hoje as aulas de história na União Européia? e nos Estados Unidos? poderão ser para sempre tão diferentes? deverão ser ainda mais diversas ou assemelhadas? como serão as avaliações em seu equivalente ao nosso ensino médio, como será a universidade que frequentarão?

que tal lhe parecerão nossos pesados notebooks e bidimensionais projeções de cinema? quão irriquietos se sentirão diante da passividade da televisão? que incríveis formas de interação com a máquina em todo o seu processo de aprendizado terão, causando-lhes as mais imprevisíveis desenvolturas...

e volto a pensar como será nossa família. se poderei ver a minha mãe ser a avó que eu sei que ela seria. se meus filhos poderão ter os pais que sempre me faltaram ou se para eles sequer fará falta e ficarei apenas eu, ficará apenas a nossa geração frustrada com a ruptura do que idealizamos perpetuar.


não é para nos angustiarmos com isso. 


há que se andar pra frente, entender os processos e tomar parte. mas que eu me coloco muito curiosa, isso sim.





sábado, 18 de outubro de 2008

Continuo sonhando com você

Quase todas as noites, em algumas semanas.

Acordo de outra cor. ultimamente, aliás, ando de outras cores, venho até pensando em mudar as cores na tela, mudei um pouco nas roupas, que aliás não cabem mais e eu vou procurando as mais confortáveis. verdes-água, azuis-piscina, roxos e lilases, laranja, algum rosinha, amarelinho alaranjado, magentão, tons de cinza, preto. de repente valhe um ensaio, umas aquarelas... mas não era sobre isso.

Era sobre você, de novo. cada vez mais distante, cada vez mais uma bobagem. E eu sonhando com você, cada vez mais. Você nunca mais nem me disse nada. Nenhum email, nenhuma gracinha. Você nunca mais me fez sentir daquele jeito especial. Você nem me disse se tomou conhecimento dessas coisas que eu fico aqui rabiscando. Acho que ando com saudades de você, por tudo isso. Ando revertendo pra você tantas outras qualidades, e se me atrai a atenção um outro é algo seu nele.

A situação toda vai adquirindo um tom onírico, que de certa forma me desinibe. Quase posso dizer seu nome.

Fico ouvindo as coisas que eu acho que você ouve. Marcando tags e sublinhando textos que eu acho que te interessariam. Me perguntando que cinema, livraria, restaurante, barzinho, padaria você frequenta.

Ando me redesenhando no espelho. No olhar, nas leituras, nas inquietações. Ando longe das pessoas. Me dá ainda menos vontade de estar com qualquer pessoa e ainda mais vontade de estar com você. Chega ao ponto de eu ter que saber se você está por perto. Se você já chegou, se você vem, a que horas você chega. Tenho ciúmes quando tem alguém lá contigo.

É bom quando eu sonho com você. Dá vontade de esbarrar com você e comentar desentendida, sonhei com você.

é, eu continuo sonhando com você.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Eu andava estranha essa semana, sentindo falta de qualquer coisa que não sabia o quê...

das coisas leves, é claro. dessa tela, branca, desse texto correndo... muito antes, conversar com a tela dentro da própria cabeça. assistir televisão. hoje está passando jumanji. e eu, que estava aqui, pensando no futuro. nós já estamos no futuro, bem viiiiiindos ao futuro! e o futuro à nossa frente?

há tempos eu me pego pensando nisso. se para alguém seremos como são para nós aqueles homenzinhos bidimensionais da renascença. ou ainda mais adiante, quando seremos grotescos e supérfulos como são para nós essas criaturas mumificadas que vez em quando são desencavadas.
que pensarão essas pessoas? que farão essas pessoas? nos considerarão sujeitos, essas pessoas?
nós mesmos, quando fechamos os olhos e visualizamos uma escultura ou ilustração grega ganhar vida e andar, falar, quando pensamos em Platão, reconhecemos ali alguém como nós? que reações teria Platão ao cruzar a Avenida Paulista, o quão risível e distanciador nos pareceria seu espanto?

nossa curiosidade não tem limites. assim como nossa vaidade. ambas, por sinal há muito tempo convertidas em instinto de sobrevivência. talvez tenha mesmo a ver com o tal do Revirão do Magno, tem que ler.

ah, a vontade que eu tenho de saber como era estar lá. e como vai ser. e como deve ser ser você. estar agora em qualquer lugar do mundo, em uma choupana nos Alpes, em uma clareira estrelada na Amazônia boliviana, à beira de um vulcão durante uma cerimônia inca, um senhor feudal da Cornuália, Cleópatra, um aborígene australiano, o Buda. Todos esses sujeitos hão. Ou houveram. Tantos outros que haverão. Como sentem, sentiram ou sentirão o mundo, essa quantidade fabulosa de sujeitos? Quantas vidas humanas houveram desde o primeiro hommo sapiens? Quantos sujeitos que se reconheceram como sujeitos?



e se retrocedermos? se a barbárie novamente imperar, se nossa predominância sobre a Terra se svanecer até que sejamos tragados pela selva, por novas classes de selvas? e se nos tornarmos a espécie observada pelos curiosos ou especialistas?

domingo, 5 de outubro de 2008

eu devia mesmo era ter feito letras

não sei direito como funcionam as habilitações, mas eu queria é estudar linguística mesmo. literatura tbm, claro, e linguas estrangeiras, mas sempre pra pensar o homem. os homens. diferentes e semelhantes, eu e o outro.

eu devia mesmo era ter feito letras pra fazer depois o mestrado em antropologia. ou o contrário, graduar em antropologia e deipois ser mestre em letras.


será possível alguém ser estruturalista por natureza?


talento para música, bom ouvido, afinação, ritmo regular. habilidade de organização da informação, proto-obcessão com a criação e a identificação de critérios, hierarquias, estruturas semânticas, relações, relativismo. a condição humana. o sentido da vida.



onde entrou design nisso tudo? de onde saíram dois anos de cineasta wannabe ainda antes? de alguma pretensão estrelista de ser artístico que no final das contas se nega? o receio de se entediar com a postura massante dos colegas ou de não ter nenhuma grande perspectiva profissional? a vontade de aparecer?



 ai estruturalismo, ai pós-estruturalismo, ai  desconstrutivismo que eu devia estar estudando e que ainda estou descobrindo que existe... como a gente dá tanta volta pra chegar onde quer?



bom, mas tem a ver com design tbm. tem a ver com uma antropologia do design, uma semântica dos objetos, que no fim das contas é semiologia, mas olhando pra frente. e inclusive identificando e desenvolvendo os métodos de se olhar pra frente, ao usar o design como método, como sistematização da pesquisa, e não apenas como objeto.

acho que se eu chegasse numa profundidade de envolvimento nisso suficientemente rentável, não precisaria sequer sair da academia, ainda que indo muito às ruas, às casas, ao campo, mas nunca se submetendo ao mercado, estudando-o, em paralelo. isso sim é a academia... 

terça-feira, 30 de setembro de 2008

seguindo a regra das coisas importantes de só aparecer quando menos se espera, ela recebeu naquela tarde a valiosa opinião do valioso amigo, que poderia mudar o curso das coisas. não que as coisas tenham um curso previsto por alguém ou em algum lugar, mas elas vão se encaminhando sozinhas e às vezes se nos damos conta disso podemos mudar alguma coisa.

você fica um pouco travada quando fala com ele. assim, não muito travada, mas tímida. quando você está interessada, você fala como falaria comigo, mas um pouco mais tímida.

ela sempre acreditara que se jogava em cima dos homens. que deixava muito claro que estava interessada e que se não acontecia nada a culpa era toda dele. que se o cara quisesse, a gente tinha ficado. não é o que vira o amigo da última vez. mas ele dissera mais, que acreditava que um dia fora diferente.

ela então cogitou a hipótese. de que um dia deixara claro, um dia fora atirada. e que depois alguma coisa mudara, perdera a coragem, ganhara cautela. alguma insegurança, alguma nova regra, alguma série de eventos a transformara.

cabia agora desvendar esse processo, essa mudança, desfazê-la.


{19/10/08}


ou talvez não fosse esse o caso, de desfazer a mudança.

noutra noite, depois de o tema ter sido reconhecido já halgum tempo, supreendera-se conscientemente agindo segundo aquela transformação. defendendo-a. ou revelando-a para defender-se.


fora parte de uma história que começara há mais que meses, na realidade. mas ficara adormecida, uma mera possibilidade, uma agradável ameaça, quase um capricho erótico. nada se desenvolvera, o contexto se transformara. e de repente o turbilhão.


não compreendia porque, mas quando recebera o telefonema, soubera que nao seria capaz. algo a intimidava. nao se sentia à vontade. e não eram as questões externas. essas teriam sido, de certa forma, similares noutro momento. eram mesmo as circunstâncias emocionais e estruturais de sua pessoa que estavam diferentes. seu comportamente deveria então ser outro. até mesmo para preservar-se.




chegara a um momento de fragilidade. e delicadeza. tons pastéis, céus azuis e brancos, mergulhos nos edredons, leveza nos passos de dança. 


se não for para me segurar, não me encoste.  

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

não vai ser agora, mas alguém tem que escrever a diferença entre pasta e rede. sabe esse papo de que a gente ainda lida com o imaterial/virtual como se fosse material?

***

por exemplo, que saco isso de nomear arquivo. sabe essas pessoas que tem métodos ultra mega cartesianos de organização de pastas e códigos de nomeação de arquivos? admirável habilidade essa, de criar sistemas de bibliotecar seus documentos no espaço virtual. o problema é que os recursos oferecidos são ainda muito cartesianos mesmo, de outro tempo.

gente, chega de pastas e nome de arquivos, eu quero colocar tags e estabelecer conexões entre elas, inclusive  a partir da observação de similaridades. tipo o twine. mas tem que ser o desktop inteiro, tem que ser tudo assim, o arquivamento de fotos por exemplo, ou de músicas no player. quero poder colocar quantas tags me ocorrerem, quero criar sequências e arranjos e hierarquias entre elas, segundo os meus critérios!!!


isso sim é o design para escritório que precisamos. do escritório virtual. e não me interessa se você coloca o seu desktop num lap top ou numa caneta que projeta na parede. nem se isso está em cima de uma mesa ou numa espriguiçadeira acolchoada. sinceramente? chega de fazer mesa e cadeira, estou muito satisfeita com as que eu tenho em casa... o que me deixa trincada é o ambiente metafórico do windows, como se "o computador" (como chamar essa coisa que habita o computador, que não é só a internet, mas tbm os softwares, os documentos criados e arquivados, mas que tbm não é o físico, o hardware, é o fluxo de informação mesmo...?) só pudesse ser compreendido se fadado à eterna sina de travestir-se de objeto familiar do homem moderno.
e essas representações são tão bruxuleantes quanto as sombras platônicas que nunca se comparam aos originais, às idéias, aos conceitos. mas "o computador" tem um potencial tão maior. o que causa em mim essa mutação, esse novo ramo da arquivologia, essa nova habilidade de categorizar e organizar coisas. exatamente por que não são mais coisas, são idéias coisificadas na tela. 


adiós descartes, finalmente podemos dispensar-te!  

entre moldar e prever o futuro


li num artigo que o design é uma atividade que pretende imaginar o futuro. reação imediata: discordo! design projeta o futuro, um projeto de design é a determinação (formal) de algo que será, que virá a ser a partir dessas especificações.

dirão que design é também projetar para o futuro. lançar um objeto num outro meio, meio esse que não se conhece ainda e que se pretende adivinhar. mas o objeto integra o meio e o modifica. assim, o objeto projetado reage ao meio mas também o transforma.

domingo, 28 de setembro de 2008

de chegar em casa com os olhos borrados de rímel e o coração murcho da decepção da festa.

me dá vontade de fazer outras coisas, de estar ao mesmo tempo em quinhentos outros lugares. ver o fogo queimar numa fogueira em frente à barraca, fumar muitos cigarros em um daqueles cafés simpáticos, dançar tango na praça com os velhinhos, ir ao parque, flutuar pelas bibliotecas.

sempre me vêm as mesmas idéias e me sai o mesmo texto.

é um mundo de egoístas este em que vivemos. mesmo todos juntos na festa, são pessoas sozinhas, divertindo-se na exposição de sua solidão ao grupo. cantamos alto, bradamos as letras e as melodias, mas cada um em seu compasso.

encontro uma coleção de pessoas interessantes toda vez que saio de casa. os encontros e as apresentações. todos sabemos ser muito simpáticos. mas nossa solidão é longa, extensa, espaçosa. na lapa lotada de sorrisos sinceros, somos na verdade enormes bolhas de toda a cidade de diâmetro. 

já ninguém se entrega mais. nos explicamos. um esforço hercúleo de se abrir, de se expor, tanto medo. já ninguém mais se apaixona. já ninguém se envolve de verdade. ficamos juntos enquanto quisermos as mesmas coisas, mas não se prenda a mim que eu posso ir a qualquer momento.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

intervenções possíveis do designer como estratégias para a sustentabilidade

Começo esclarecendo que entendo como design uma forma de pensar independente das práticas a que se aplique, pautada na sistematização dos processos e do conhecimento a respeito da existência de métodos. Dentre outras características, o designer sabe que existem diferentes procedimentos possíveis para fazer alguma coisa, para se chegar a um fim. E tem a habilidade de racionalizar as ações e/ou o pensamento com o objetivo de atingir esse fim, considerando valores diversos, determinados subjetivamente, cultural, econômica, social ou politicamente. Muito além do projeto de objetos materiais e/ou visuais, o designer pode atuar no processamento de informações, prestação de serviços, ou mesmo na gestão do conhecimento.



Esse texto se propõe a apresentar uma proposição de atuação do designer na sociedade como interventor que objetiva transformações sociais a partir de valores humanistas, entendido humanismo - muito simplificadamente - como a possibilidade da máxima liberdade dos indivíduos humanos sem que sejam feridas as liberdades individuais de outros humanos, tendo como base direitos humanos universais em vias de estabelecimento no processo de globalização. Desconfio que haja certo consenso entre nós de que seja importante um indivíduo refletir sobre as consequências de seus atos, em qualquer esfera. Como em provavelmente qualquer área de atuação profissional, tenha ou não o designer se preocupado com elas, aquilo que ele produz, seja de natureza material ou imaterial, sempre terá consequências. Portanto, é fundamental ressaltar o impacto das ações do designer em todos os aspectos da vida e da sociedade. 

Um potencial auto-destrutivo reside no espelho de cada designer e nos desafia a assumir outras posturas na sociedade. Como projetistas da indústria, os designers durante a história da sociedade industrial têm sido em grande parte peças fundamentais de sustentação e mecanismo da sociedade de consumo, à qual não me deterei a criticar, considerando generalizada a discussão, me detendo aos pontos pertinentes para defender as idéias aqui apresentadas.



As propostas

1. intervenção em comunidades >  O designer pode prestar diferentes tipos de "consultorias" a organizações não-governamentais, cooperativas e "comunidades" em geral, aplicando e transmitindo seus conhecimentos de sistematização a favor do desenvolvimento sustentável (portanto independente) do grupo. 

2. intervenção no comportamento do consumidor > Os objetos como agentes (não apenas de comunicação) em um sistema de interação entre coisas e pessoas e entre si respectivamente. Considerar o significado, as implicações dessa agência em relação a valores humanistas. por exemplo, um produto que estabelece vínculos duradouros com os usuários pode ter menos impacto ambiental que outros não por ter uma produção menos agressiva ou um descarte mais simples, mas por reduzir a necessidade de descarte. Isso não é novidade nenhuma no pensamento teórico do design, mas vem sendo alardeado sob novas roupagens por interesses específicos das dinâmicas do mercado contemporâneo, nem todas elas comprometidas com a sustentabilidade.  

3. intervenção no comportamento do cidadão > O designer tem a habilidade de sistematização da informação e da comunicação. Assim, pode realizar com especial propriedade e eficiência o papel de abrir os olhos dos indivíduos às diversas questões da vida cotidiana, da política, da economia, etc. O músico, o artista e o jornalista, por exemplo, o fazem, o designer também o faz muitas vezes, mas em geral por encomenda de um cliente e não por iniciativa.



Defendo que todas as possibilidades de ação aqui apresentadas e outras mais com o mesmo caráter crítico de reposicionamento responsável do designer devam ser realizadas voluntariamente por nós. Em suma, é preciso encontrar maneiras economicamente viáveis de aplicar o conhecimento de design em atividades de contribuição social. A sociedade de consumo teve até hoje consequências desastrosas na vida humana e no meio ambiente, mas novos rumos são possíveis. Acredito na atuação do designer como facilitador atuante nesse processo e, ao mesmo tempo, essa atuação um imperativo para sua sobrevivência nas novas configurações do mundo e do mercado que se delineiam.