Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

sexta-feira, 24 de julho de 2009

minutistas

Entregar-se por completo e logo depois esvanecer. Essa é a prática a que tantos estão habituados. Não vou dizer que seja coisa do nosso tempo. Não me faz diferença se há 50 ou 500 anos era mais ou menos parecido. O que vem ao caso é que me incomoda isso. Me incomoda deitar-me com alguém e amar essa pessoa sinceramente e então no dia seguinte cumprimentá-la quase formalmente bom dia, boa tarde, boa noite. Me incomoda que a extrema intimidade seja seguida de uma quase indiferença, de olhares educados e gestos comportados. Me incomoda não ter espaço para dar prosseguimento ao que dentro de mim só cresce, cria raízes, floresce ramos, me incomoda a naturalidade com que todos se obrigam a podar esses sentimentos. Não acredito que tenham sidos falsos os olhares, os beijos, as carícias, os abraços muito fortes de não saia nunca de perto de mim. Tampouco acredito que tenham sido levianos. Não entendo para onde vão todas essas coisas quando os corpos se separam na manhã seguinte. Tenho a impressão de que cada pessoa tem em si uma gaveta onde entulha sufocados os amores que foram por menos de um dia, os brotos arrancados prematuros. Quantas vidas não vividas caberão nessa gaveta, quantas promessas de felicidade canceladas com o nascer do sol?