Finalmente as árvores vermelhas na Praça Paris. O céu muito azul, já em meados de julho, e as árvores finalmente alaranjadas, avermelhando, algumas completamente cobertas por folhas de um cor de abóbora amagentado, com suas leves variações tonais. O céu muito azul.
Seu peito também, azul. Azul e leve, o coração e os pulmões dentro do peito, o peito inchado. O olhar tranquilo e dourado, o sorriso flutuante. Terça feira, três da tarde, o sol lambendo a escadaria da biblioteca, os pracinhas, as árvores da Praça Paris.
Nem sempre tudo era como gostaria. Às vezes ingenuidade demais, às vezes muita sinceridade. Mas seu coração balançava juvenil dentro do peito azul, as tardes seguiam cada vez mais tranquilas. Mesmo que se exaltassem um pouco de vez em quando as noites, as tardes eram momentos puros de paz e auto-dedicação.
As tardes eram finalmente calmas, além de azuis, naquelas tardes de julhos. Livre de horários e compromissos, com o mundo inteiro sob os dedos e os olhos, podia vagar do extenso universo do mundo inteiro ao ainda mais vasto e complexo universo de sua intimidade.
Pouco a pouco, através de artigos, fragmentos, imagens, histórias, conceitos, linhas e traços, ia entendendo o mundo. E com o seu entendimento do mundo, ia se entendendo. Era sua própria cobaia. Dedicava cada uma de suas tardes a uma ou várias dessas atividades, uma a uma, tarde por tarde, experiência por experiência, com a calma que agora dominava, nunca mais lhe faltaria foco.
Às vezes lhe desfocavam a atenção suas emoções. Mas aprendera a dedicar sua atenção às emoções elas mesmas, quando assim fosse, e não insistir em outros temas. Assim, cada momento podia ser pleno em si e cada processo poderia ser completo.
O mundo era todo seu. Porque era livre. Era uma pessoa única e sem dependentes. Daí sua independência. O que nos prendem são aqueles que dependem de nós e não o contrário. E apenas a independência e nunca a carência permite a alguém envolver-se. Estar só e por isso insatisfeito é bastante diferente de estar abertos. E apenas os independentes são realmente capazes de abrir-se, os carentes já estão pela sua carência ocupados.
E o mundo era todo seu, porque era livre. A liberdade lhe invadia e inflava o peito, azul. Espaçoso, azul e leve, o peito. Aberto. Independente e livre, pronto para ser ocupado e envolvido.
Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]
"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"
Sê tu mesmo"
terça-feira, 22 de julho de 2008
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