Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Outro dia encontrei na rua um menino que estudou comigo. Encontrei com ele duas vezes na mesma semana. Conversamos rapidamente na pressa do sinal, no trecho em comum de um quarteirão. Perguntei o que ele está fazendo -- direito. Depois perguntei se está gostando -- claro que não!.
Minha reação foi muito mais triste do que eu demonstrei. Isso porque o claro que não dele veio irônico, cheio de sorrisos, pra esconder que pra ele é mesmo muito triste não gostar do que faz. Isso foi no primeiro esbarrão.
Na segunda vez que nos vimos tocamos no assunto de novo. Eu perguntei há quanto tempo ele está nessa faculdade -- cinco anos. E você vai passar o resto da vida fazendo uma coisa que em cinco anos já não suporta?.
Irônico e sorridente de novo, de novo mascarando o desespero que deve aflorar alguma hora, ele falou em dinheiro. Falou que seu plano é prestar um concurso público, sei lá, ganhar muito dinheiro, e ser feliz nos fins de semana, viajar. Ensaiei falar alguma coisa pra ele sobre felicidade. Que não tem nada a ver com dinheiro nem necessariamente fins de semana e viagens, mas vai dizer isso em 2 minutos? Nem em 2 horas, pra alguém que não esteja disposto a ouvir.
A verdade é que me disseram isso e repetiram e repetiram e eu só entendi quando não foi ninguém que disse, quando fui eu que entendi e pronto.
Perguntei pra ele do que ele gosta e foi aí que ele fraquejou. Disse que não sabe, que vive se perguntando e não acha a resposta. Me solidarizei. Lembrei do dia que a analista me pergunto que coisas são essas que você gosta, porque eu vivia falando dessas supostas coisas e qual não foi o meu desespero quando eu não consegui dizer de verdade eu gosto disso, disso e daquilo.

Aí no outro dia, na mesma semana ou na outra, encontrei um outro amigo, no mesmo cruzamento. Sorrisão, que bom te ver, abraço gostoso, beijo carinhoso, saudades sinceras. Perguntou o que eu estou fazendo e eu respondi que estou trabalhado numa coisa que eu gosto muito. Depois veio ele no GTalk comentar que eu estou muito bonita (e nao que eu estava), que é muito bom me ver assim feliz, rindo à toa. E disse ainda que o universo agradece.

Aí eu fiquei pensando que todo mundo devia rir à toa, e que ninguém devia se permitir fazer com a vida algo que não goste de verdade e que o universo inteiro agradeceria se todo mundo investisse o tempo que fosse preciso pra descobrir o que gosta e aí sim fosse fazer. Independentemente de quanto fossem pagar por isso. Porque não tem pagamento maior que um sorriso gratuito ao meio dia em plena cinelândia.

2 comentários:

Cla452 disse...

Ontem mesmo eu pensava sobre o que gosto...e lembrei de uma situação parecida com a que você descreveu...eu não soube definir meus gostos. Acho que porque somos tão mutáveis que cada hora nos sentimos de um jeito, e ae fica difícil definir algo cristalizado quando não se é realmente.

Postei algo, um tempo atrás, que passou um pouco nesse ponto:
http://fatiadelimao.blogspot.com/2007/10/texto-recuperado.html

Cla452 disse...

Ontem mesmo eu pensava sobre o que gosto...e lembrei de uma situação parecida com a que você descreveu...eu não soube definir meus gostos. Acho que porque somos tão mutáveis que cada hora nos sentimos de um jeito, e ae fica difícil definir algo cristalizado quando não se é realmente.

Postei algo, um tempo atrás, que passou um pouco nesse ponto:
http://fatiadelimao.blogspot.com/2007/10/texto-recuperado.html