Não namorar significa fazer o que der vontade sem (se) machucar.Achei que isso era viver.
Não foi só uma resposta esperta. Mas a frase me pegou de surpresa. Uma vida inteira resumida assim. Fazer o que der vontade sem (se) machucar. Acho que em todos os mundos do meu universo isso é a única coisa que sempre fez sentido. E é exatamente isso que eu faço, sempre, em qualquer vida.
Mas tem esse não namorar no início da frase porque era disso que se tratava o diálogo. Foi engraçado porque eu estava justamente formulando o que é namorar, senão assinar um contrato, sem necessariamente discutir seus termos, mas esperando que sirvam de proteção contra tudo aquilo de que temos medo: que o outro deixe de amar, que ame mais um terceiro, que nos deixe sós no sábado à noite, que não tenhamos quem se interesse por toda a complexidade do que somos e sentimos.
Sejamos sinceros, namorar não protege ninguém contra nada disso. Pra começar que esses são medos que, se sentidos, devem ser vencidos e não simplesmente abafados. Pelo menos na minha experiência o termo compromisso só serviu pra eu me sentir segura de que o outro estaria com suas portas trancadas, que não deixaria ninguém entrar nem se deixaria sair. Mas eu mesma nunca tranquei minhas portas. Eu sempre transitei livre, eu sempre fiquei só enquanto era bom, eu sempre deixei entrar quem se anunciasse.
Liberdade nesse caso é sinônimo de sinceridade. E se tem uma coisa que eu não aprendi é a não ser sincera. Outro dia uma amiga me perguntou o que fazer numa situação emocional complicada. Depois de um breve discurso sobre a invalidade de qualquer conselho, dado que não sou eu lá vivendo a situação, eu disse a ela que fosse sincera, com ela mesma em primeiro lugar. Porque numa situação em que você não tem ideia das consequências externas do que fizer, ou seja, sempre, só resta garantir que a consequência interna seja pacífica.
A melhor forma que eu encontrei pra dormir tranquila todas as noites é fazendo exatamente o que me dá na telha, deixando as palavras saírem quando se anunciam na boca, deixando as mãos serem tão carinhosas quanto desejarem e os pés caminharem na direção que lhes aprouver. Quando eu sinto muita vontade de dizer algo a alguém... eu posso estar muito longe de adivinhar o que a pessoa vai ouvir, o que vai dizer de volta. Mas eu posso ter certeza, convivendo comigo há quase 24 anos, que eu vou me sentir bem depois de dizer. E que se eu não disser aquilo vai inchar na garganta e que aos poucos vai criando uma papada quente e incômoda que vai me deixando pesada e restringindo meus movimentos.
Bom mesmo é quando duas pessoas estão juntas porque estão com vontade. Dure isso uma hora, um fim de semana ou uma vida inteira. É sempre uma vida inteira, dentro das muitas que vivemos em cada um dos muitos mundos que orbitam no universo de cada um de nós. Desde que seja sincero, será intenso e será bonito. Bonito é quando é inteiro. Quando o olhar não cobra nem pede, só oferece.
Me pergunto quando a gente vai confiar o suficiente na vida e no Deus dentro do peito pra transitar seguro e à vontade por qualquer situação, agindo só em resposta ao que acontecer, sem ataques de futuro como diz meu professor de Contato. Sem ataques de futuro. A vida é cheia desses casinhos deliciosos que a gente não quer deixar acabar antes de explorar toda a beleza que puder encontrar. A vida inteira é assim, o mundo inteiro. As divisões que criamos no tempo são invenções da mente. Cada dia é único e a vida toda é inteira. Nada começa nem termina, tudo é fluxo. E o meu manual de instruções pra navegar tranquila é fazer tudo o que der vontade, sem (se) machucar. E responder às situações em vez de tentar adivinhá-las. Sem ataques de futuro.
Um comentário:
Coloquei 'o que der vontade' no google e acabei parando aqui.. e.. tô.. nossa! AMEI o qe lii! me traduziu tanto.. sem palavras.. mt liindo! Parabéns! ;* e obrigada :}
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