Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]
"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"
Sê tu mesmo"
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
sábado, 2 de outubro de 2010
um dia surpreendentemente dificil
hoje foi um dia surpreendentemente dificil. numa semana surpreendentemente especial. num ano surpreendentemente intenso. num período surpreendentemente transformador. numa década surpreendentemente acelerada.
todo o planeta fecha os olhos e respira. cada vez mais pessoas dão as mãos em círculos de poder e se conectam à consciência sutil da rede universal. cada vez mais seres emanam luz e à ela ascendem.
tudo isso eu sinto em mim. dentro de mim. minhas células acordando e dialogando. meu corpo todo se purificando, o amor brotando e fluindo pelos poros. é como se o ar se tornasse menos denso e eu pudesse enxergar o céu mais de perto. bem mais de perto.
anjos voltam a me cuidar e conversar comigo. me lembro depois de tantos e tantos e tantos anos de uma infância cheia desses seres celestiais, companheiros essenciais para que eu adormecesse, iluminaram minhas noites naquela casa tranquila daquela avó serena e azul. e também me surpreende a recordação saudosa desse lugar, dessa infância de antes, dessa infância antiga.
talvez antes do terror, da morte face a face. antes de ver o sangue empoçar, aquelas noites inocentes com a cara e as pernas coladas na parede gelada, brincando com as sombras da lâmpada amarela no alto da escada. a grade da janela, os travesseiros e os bonecos, as orações. o cheiro e o gosto da parede.
quanto medo eu sentia às vezes antes de dormir. mas também quanta fé eu tinha, quantos seres de luz eu invocava para me guardarem o sono. lembro-me bem daqueles amigos radiantes, dourados e prateados, que me povoavam tudo ao redor.
hoje foi um dia especialmente dificil que eu de alguma forma evito deixar que termine. tavez eu tema acordar amanhã com uma ressaca irreparável, talvez eu nunca mais tenha coragem de abrir os olhos para sair da cama.
o que você quer fazer agora? qual o plano?
eu só quero que os anjos voltem a vir dormir comigo.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Não queria acreditar que houvesse um grande motivo para estar ali. Grande parte de si simplesmente não queria. Preferia sentir-se insignificante, preferia acreditar que nada de grande tinha de realizar, que a maior realização na vida seria a renúncia à ação, a mera contemplação.
Volta e meia vislumbrava a possibilidade de algo grande. Algo que poderia proporcionar reconhecimento e que preencheria dignamente seus dias, que em troca da produtividade exigida de suas horas lhe retornaria frutos, louros. Algo que poderia ser celebrado.
Mas logo em seguida já estava a pensar noutra coisa. Volta e meia perguntava-se o porque. Perda de interesse, medo de fracassar, preguiça de começar. Explicações possíveis. Aquela grande parte de si preferia achar que acima (ou abaixo) de tudo isso estava a constatação de que não valia a pena. O que também pode ser interpretado como falta de motivação. Mas aquela parte de si preferiria então chamar de falta de sentido.
Mas havia ainda uma pequena parte de si. Que acreditava e preferia dizer que intuia que haveria sim sentido. Em criar, em mover, em construir.
sábado, 14 de agosto de 2010
curriculum vitae
tudo que fora feito. tudo o que fora estudado. tudo o que fora lido. tudo o que fora empenhado. tudo o que fora exercitado. tudo o que fora obtido.
todos os nomes, lugares, formulas, fatos, sorrisos, notas, compassos, cordas, teclas, traços, linhas, planos, versos, forças
toda a montanha escalada até agora
agora
agora
tarde branca fria lenta silência venta
chão
todos aqueles movimentos em direção a
alguma coisa sempre quisera sair.
alguma coisa fincada fundo, alguma coisa borbulhante, alguma coisa rastejante, alguma coisa sempre sempre em formação. alguma coisa crescendo dentro de si se alimentando de tudo e de todos. alguma coisa pra um dia querer sair
quinta-feira, 29 de julho de 2010
o que eu percebi ontem
talvez seja um pouco clichê. mas ontem eu percebi. experimentei. não foi a mera formulação de um conceito ou cenário.
do sutil ao denso, do denso ao sutil. a vida como um barco. a gente no leme, nos remos, na vela.
a felicidade estampada com cara de céu azul adiante, acima ao nosso redor todo. essa cúpula azul que paira sobre nós, que satisfeitos contemplamos. a felicidade. absolutamente sutil.
de vez em quanto pensamentos se condensam em nuvens que flutuam por esse céu. às vezes são tantas e tão densas que nublam, chegam a formar tempestades. o vento que é brisa ou tornado são os sons da nossa mente. nosso comentarista interno.
abaixo do barco, o mar. um mar. a água bem mais densa que o ar. mais escura também. sustentando o barco, mas também direcionando-o. às vezes se agitando e jogando-o acima, aos lados, obrigando-nos a desviar o olhar da bela cúpula e cuidar para que o barco não vire. esse mar é nosso peito. é cheio de tristezas nadando em cardumes agitados, cavucando e espetando os solos coloridos, dançando por dentre os corais... ou arrastando-se lentas e secretas, monstruosas, nas fossas abissais.
pois bem, está aí a imagem que eu contemplei. o barqueiro, um vasudeva dos mares, tranquilo namora a felicidade azul. chega a divertir-se com um e outro pensamento quelhe cruza a vista. o vento sopra tranquilo e agradável, o mar balança confortável sob suas costas que descansam no barco. se acumulam algumas nuvens, o vento acelera, a luminosidade diminui, o mar se agita. o barqueiro se levanta e encara o mar. o vento uiva. e ele sabe, sente, vive o monstro que como as asas da borboleta, gere a tormenta. e ele sabe que quando for capaz de mergulhar muito fundo e agarrar o monstro ou atraí-lo à superfície, ou lançar algo que o arranque, não importa como... quanto ele for capaz de retirar aquele monstro do fundo... o monstro popará como uma rosca e o mar se esvaziará por um ralo gigante. e só restará a cúpula, para sempre azul. para sempre sutil.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
presente
É bom tirar as meias e pisar o piso
Despir todas as camadas e deixar o ar roçar a pele
Ligar a água e sentir a temperatura na ponta dos dedos
Deixar a água descer o corpo
Molhar cabelo, rosto
Perceber a diferença de temperatura entre a água e o ar
E sentir prazer
***
Vestir apenas uma camiseta e um short
Leve
***
Sentar-se na cadeira de tantas vezes
Diante da janela de tantas vezes
Os dedos sobre os teclados de tantas vezes
***
A mente como a grama que ficou
Após levantarmos o acampamento
A mente cheia de brotos frescos
Cheia de sementes
***
olhar-se no espelho e se localizar no espaço
no tempo
no mapa dentro de si
não temer o calendário, pelo contrário
vislumbrar nele os louros
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