Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

segunda-feira, 28 de julho de 2008

estou de férias. minha mãe viajou. estou aqui sentada na minha cama há dias, fazendo todas essas coisas que eu nunca tinha feito. nunca me ocorrera.
moro neste apartamento há cerca de um ano e meio. acho que hoje foi a primeira vez que eu abri totalmente a janela. isso porque só ontem eu aprendi a olhar por ela e a admirar a vista privilegiada que eu tenho. ontem eu inclusive tirei fotos. hoje eu me sento no escuro e no silêncio e observo. escuto.
está de noite. tarde da noite. madrugada. cedo ou tarde na verdade são categorias muito pessoais. quando alguém me pergunta o que eu tenho feito é um pouco estranho, mais pra eles do que pra mim, responder, nada. mas fazer nada nos últimos dias tem sido muito mais produtivo do que meses de atividades intensas. em primeiro lugar por ter mudado o conceito de produtivo.
houve um tempo em que eu não suportava não ter planos. não saber o que faria nos próximos três dias, semanas, meses. eu tinha sub e super planos, de acordo com as escalas. eu simplesmente não conseguia dormir sem eles. eu sabia o quanto isso era ruim, mas simplesmente não conseguia fazer diferente.
então eu encontrei o plano perfeito: não ter plano. estabeleci um prazo, sub e super prazos. não ter a menor idéia de certas coisas, não me preocupar com outras, não criar expectativas com terceiras. não me cobrar cotas de páginas ou de horas de dedicação a quaisquer atividades. não me prometer metas. não ter objetivos a alcançar, não me esforçar para cumprir cronogramas de aproveitamento do tempo. simplesmente aproveitar o tempo, fazendo o que der vontade a cada minuto.

um pouco diario gráfico, só que com a sua vida. com a sua rotina. conhecer alguém interessante e dias depois não querer mais vê-lo. entrar numa loja e comprar um vestido. sentar-se na grama no aterrro. olhar as estrelas pela janela antes de dormir. entender a letra de uma música. perceber algo especial lá fora. escutar os pássaros. acompanhar uma conversa de estranhos. dormir muitas horas. virar a noite. ir a uma festa. decidir em cima da hora. não tomar banho.

desacelerar.

eu finalmente entendo, cada um deles. com as suas peculiaridades. o viajante desorientado, o hippie das tranças, a rasta da praça, todas essas criaturas lentas e sem ambição. a vida pode ser lenta. o mundo merece ser contemplado. os dias merecem ser imprevisíveis. nós, seres humanos, temos que respeitar nossas escalas, nosso alcance.

ninguém deveria ter que fazer nada de que não sinta vontade.

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