Todo designer é um consumidor consciente. Independentemente do quanto consome e do que consome, o designer sabe exatamente o que está comprando ou deixando de comprar e compreende todo o sitema abstrato construído ao redor desse ato. O designer vê o objeto nu justamente por ser capaz de identificar e decodificar as ilusões em que ele e o sistema a seu redor estão inseridos.
Isso se manifesta de forma diferente em cada designer. Nos concentremos portanto naqueles que optam por tornarem-se não-consumidores. Se alimentam, se vestem, vão ao cinema, compram livros etc. Mas o fazem de forma mínima e precisa, não excedem em nada em suas aquisições, não cedem a nenhum fetiche. Em geral porque o conhecimento sobre os processos e os valores, a nudez dos objetos tem sobre eles o efeito de perda do interesse sobre as coisas apenas como coisas.
As coisas não bastam em si.
Mas se esses designers continuam alimentando um sistema de consumo cego e irresponsável, se ferramentam aqueles que darão continuidade àquilo que eles mesmos desmitificaram e recusam em sua vida pessoal, sua postura será incoerente e por isso reprovável. Ao dar-se conta do absurdo das montanhas de coisas e da crueldade da rotina do trabalho e do absurdo da produção pela produção, consumindo a vida do homem para alimentar um sistema inumano, desumano e cada vez mais autônomo, o designer assume a obrigação, como cidadão e profissional, de voltar-se contra esse sistema.
O designer é um revolucionário em potencial. A simples percepção desse mostra o caminho inevitável da contestação, da subversão, do desmascaramento do materialismo.
As pessoas são infelizes, depressivas, ansiosas, exaustas, frustradas, passivas, desorientadas. Vão à praia lotada aos domingos e de segunda a sexta marcham cinzentas aos balcões de serviço, às mesas de escritório, ao desespero das contas pra pagar, às filas do banco e do crediário, ao terror dos juros do crédito. Vendem toda sua vida, todo seu presente a esperar por um futuro que nunca chegará, a um momento de realização e compensação que não será desfrutado.
O vazio que nos habita e nos dirige a mais lojas de conveniências e trocas de eletrodomésticos, que povoa nossos sonhos de gadgets eletrônicos, que nos exaure na produção de algo para obter meios de adquirir algo - produzido na exploração de outrem - que nunca satisfará as expectativas; esse vazio deve ser combatido.
Qual o alcance do designer no combate a esse vazio além do seu espaço de atuação privado?
Nenhum comentário:
Postar um comentário