Segundo ela, depois que nos despimos dos joguinhos, das ceninhas, dos papéis, dos personagens, desvelamos os véus que turvam as coisas e as máscaras caem. A verdade inunda nosso olhar e a realidade está lá. Branca. E às vezes a realidade é ridícula demais, ou cretina demais, ou pervertida demais, ou cruel demais, ou irracional demais, ou egoísta demais. Sentimos curiosidade, repulsa, paixão até, mas nunca nos deixamos envolver por completo naquilo porque vamos sempre olhar de fora, de cima, para nunca perder o controle, nunca se deixar levar no fluxo das coisas porque nós vemos as coisas e vemos o fluxo.
Segundo ela, nos sentimos às vezes tão especiais e tão lúcidos e tão responsáveis por todos os nossos atos que não nos permitimos falhar de maneira nenhuma. E se falhamos entramos em pane ou surtamos, incapazes de lidar com as falhas. Ou leva-se às últimas consequências ou se abandona por completo e bloqueia imediatamente depois da decepção derradeira.
E então passamos a observar tudo com um olhar tão cético, e ao mesmo tempo que se exige tão justo, que entendemos todos os pontos de vista e todos os comportamentos se tornam compreensiveis. E também por isso nos obrigamos a sacrifícios absurdos, nos submetemos a situações as mais adversas. Se não é a repulsa completa por aquilo com que discordamos, é a compaixão auto-destrutiva por aquilo que nos fere mas compreendemos e nos obrigamos a salvar.
E fica difícil ser justo consigo mesmo quando se passa o tempo todo se obrigando a ser justo com o mundo inteiro.
Segundo ela, o olhar clínico não pode nunca trazer a felicidade se não se aprende a amar justamente as fraquezas, as pequenices, as agressividades defensivas, as descarrilhadas desesperadas.
Segundo ela, é muito mais fácil assumir a máscara e agarrar-se a ela do que agarrar-se a seus princípios ou vontades sinceras.
Segundo ela, segurança é coragem de ser honesto e de demonstrar as paixões, as incertezas, as inquietudes, a felicidade, a ansiedade, a euforia, a inveja, a tristeza, o orgulho e o orgulho-ferido, e até mesmo a insegurança.
Segundo ela, talvez não devêssemos olhar tanto para as características ou ações esperadas x demonstradas de alguém mas sim como esse alguém te faz sentir, principalmente a maior parte do tempo e não nos momentos especiais pra bem ou pra mal.
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