Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

pelô

gente demais circulando,
gente demais desejando,
gente demais não podendo,

gente demais abordando,
gente demais se esbarrando,
gente demais se temendo,

gente demais desfrutando,
gente demais se mostrando,
gente demais se escondendo.

se escondem como ele diz, por baixo dos óculos, atrás da janela, debaixo do guarda-sol.

é pra gente se sentir culpado?


a gente às vezes quer fingir que não vê

a gente às vezes quer abrir o peito

a gente às vezes quer fumar e beber

a gente às vezes tem medo


é pra gente se sentir culpado?


medo do desconhecido; do que não se pode compreender nem aceitar; nem ignorar nem solucionar.


eles vêm e vêm com eles os olhos e as bocas e os pedidos quase gemidos que são intimações. a história, as pedras, os sinos. a história lá no chão quente de pedra, as correntes e as barras nas janelas. o tempo todo eles vêm.


a gente quer entender o nosso lugar no mundo. e o nosso lugar diante disso, em relação a isso, em relação a todas as coisas. o nosso lugar em relação a esse lugar.

o que você leva?

o que você traz?

o que você divide?

o que você cobra?


ninguém tem mérito nem tem culpa de ter nascido em lugar nenhum. o que todo mundo tem é o mesmo direito de existir e de explorar essa existência com aquilo que o universo oferece. e o universo oferece igual pra todo mundo que nasce e existe. mas na hora em que alguém se convence de que merece mais, de que pode mais... o universo não se sobrepõe a nós, o universo não pune, o universo não tira. e nós que aqui estamos, e que há muito alteramos o curso das coisas, nós manipulamos o universo nos sobrepondo, punindo, tirando.

nós? reconhecer-se (assumir-se) nesse nós? envergonhar-se? sentir-se ridiculamente desorientado diante do jogo sendo jogado ali, a dois palmos, por todos os lados, ter que tomar parte nesse jogo ainda que pela recusa.


sentir medo, depois sentir curiosidade, depois sentir compaixão, depois sentir enjôo.


dessa vez não adianta fumar nem beber. escrever também de nada adianta. é preciso entender e assumir o lugar no mundo. e o lugar diante disso, em relação a isso, em relação a todas as coisas. o lugar em relação a este lugar.

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