A gente sente isso forte quando conversa com alguém que vive uma realidade completamente diferente. Um casal por exemplo. Não de namorados saltitantes frequentadores da lapa, imagine uma pessoa solteira conversando com um casal desses casadíssimos, que curtem casas em itacoatiara, plantas, clima bucólico. Imagine uma pessoa solteira explicando pro pobre casal espantado os motivos pelos quais gostaria de morar "mais para o centro", ou seja, no meio da confusão urbanóide mesmo.
Pior ainda é conversar com uma outra pessoa solteira, potencialmente interessante, e causar-lhe assombro ou repulsa com a falta de delicadeza das palavras e dos raciocínios, principalmente no que se refere à selvageria das relações entre solteiros lá fora. Sim, porque mesmo quando passam a noite acompanhados, solteiros são solteiros 24hs por dia até que se prove o contrário, ou seja, até que sejam parte de um casal. E solteiros, não importa se estão entre amigos ou assumidamente à caça, solteiros estão sempre alerta, porque estão sempre por sua conta e risco, estão sempre sozinhos. E solteiros, desses muito solteiros mesmo, quando estão entre amigos solteiros, quando falam de sua vida de solteiros podem assustar.
Em inglês, solteiro é single. Single em português também é singular. Singular, único, um só.
A gente adquire cada mania... a gente se acostuma. Acordar e dormir, ficar três dias seguidos sem dirigir a palavra a ninguém quando não se tem aula ou trabalho. Nem se olhar no espelho. Ocupar a cama de ponta a ponta, comer de um jeito esquisito, assoar o nariz e largar os papéis pela casa inteira. Se submeter às maluquices dos outros solteiros que às vezes acabam passando a noite na sua casa etc.
A gente se acostuma a falar no singular o tempo todo. E é uma das piores coisas do mundo, ser sempre eu vou, eu quero, eu acho, eu gosto e nunca nós gostamos, nós achamos, nós queremos, nós vamos...
É complicado que do lado de cá, a grande maioria não está afim de passar pro lado de lá. Do lado de cá tá todo mundo arreganhando os dentes e as unhas mesmo, assumindo a missão de cada sexta feira, aumentar as opções do caderninho sem se deixar envolver por mais que uma diária. De manhã é cada um pro seu lado e beijo na bochecha.
E eu vou me despedindo de 2008 lentamente. Já que à meia noite do dia 31 eu não vou ter ninguém tão especial assim pra me dizer coisas bonitas e promissoras para o ano novo, me assumo enquanto solteira clássica e vou passar por todo o processo e fim de ano das pessoas solteiras, retrospectiva, pensar nos que vieram e nos que foram, na bagunça emocional.
2008 foi o ano mais solteiro da minha vida. Não deu pra chamar ninguém nem de peguete. Um fim de semana com pastel na feira foi o máximo que rolou. Mas teve uma quantidade razoável de histórias pra lembrar, se isso vale de algum consolo. Um amor platônico irracional, um cara que perdeu a graça da noite pro dia, um ex-namorado paranóico, um sujeito pirado que não dizia coisa com coisa, fora uma ou outra trepada ocasional ainda menos significativa.
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