Começo esclarecendo que entendo como design uma forma de pensar independente das práticas a que se aplique, pautada na sistematização dos processos e do conhecimento a respeito da existência de métodos. Dentre outras características, o designer sabe que existem diferentes procedimentos possíveis para fazer alguma coisa, para se chegar a um fim. E tem a habilidade de racionalizar as ações e/ou o pensamento com o objetivo de atingir esse fim, considerando valores diversos, determinados subjetivamente, cultural, econômica, social ou politicamente. Muito além do projeto de objetos materiais e/ou visuais, o designer pode atuar no processamento de informações, prestação de serviços, ou mesmo na gestão do conhecimento.
Esse texto se propõe a apresentar uma proposição de atuação do designer na sociedade como interventor que objetiva transformações sociais a partir de valores humanistas, entendido humanismo - muito simplificadamente - como a possibilidade da máxima liberdade dos indivíduos humanos sem que sejam feridas as liberdades individuais de outros humanos, tendo como base direitos humanos universais em vias de estabelecimento no processo de globalização. Desconfio que haja certo consenso entre nós de que seja importante um indivíduo refletir sobre as consequências de seus atos, em qualquer esfera. Como em provavelmente qualquer área de atuação profissional, tenha ou não o designer se preocupado com elas, aquilo que ele produz, seja de natureza material ou imaterial, sempre terá consequências. Portanto, é fundamental ressaltar o impacto das ações do designer em todos os aspectos da vida e da sociedade.
Um potencial auto-destrutivo reside no espelho de cada designer e nos desafia a assumir outras posturas na sociedade. Como projetistas da indústria, os designers durante a história da sociedade industrial têm sido em grande parte peças fundamentais de sustentação e mecanismo da sociedade de consumo, à qual não me deterei a criticar, considerando generalizada a discussão, me detendo aos pontos pertinentes para defender as idéias aqui apresentadas.
As propostas
1. intervenção em comunidades > O designer pode prestar diferentes tipos de "consultorias" a organizações não-governamentais, cooperativas e "comunidades" em geral, aplicando e transmitindo seus conhecimentos de sistematização a favor do desenvolvimento sustentável (portanto independente) do grupo.
2. intervenção no comportamento do consumidor > Os objetos como agentes (não apenas de comunicação) em um sistema de interação entre coisas e pessoas e entre si respectivamente. Considerar o significado, as implicações dessa agência em relação a valores humanistas. por exemplo, um produto que estabelece vínculos duradouros com os usuários pode ter menos impacto ambiental que outros não por ter uma produção menos agressiva ou um descarte mais simples, mas por reduzir a necessidade de descarte. Isso não é novidade nenhuma no pensamento teórico do design, mas vem sendo alardeado sob novas roupagens por interesses específicos das dinâmicas do mercado contemporâneo, nem todas elas comprometidas com a sustentabilidade.
3. intervenção no comportamento do cidadão > O designer tem a habilidade de sistematização da informação e da comunicação. Assim, pode realizar com especial propriedade e eficiência o papel de abrir os olhos dos indivíduos às diversas questões da vida cotidiana, da política, da economia, etc. O músico, o artista e o jornalista, por exemplo, o fazem, o designer também o faz muitas vezes, mas em geral por encomenda de um cliente e não por iniciativa.
Defendo que todas as possibilidades de ação aqui apresentadas e outras mais com o mesmo caráter crítico de reposicionamento responsável do designer devam ser realizadas voluntariamente por nós. Em suma, é preciso encontrar maneiras economicamente viáveis de aplicar o conhecimento de design em atividades de contribuição social. A sociedade de consumo teve até hoje consequências desastrosas na vida humana e no meio ambiente, mas novos rumos são possíveis. Acredito na atuação do designer como facilitador atuante nesse processo e, ao mesmo tempo, essa atuação um imperativo para sua sobrevivência nas novas configurações do mundo e do mercado que se delineiam.
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