Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

dor não se mede

Outro dia me disseram que pior que crescer sem pai é crescer com um pai que não te ama. Concordei de imediato. Certamente, muito pior. Mas depois pensei calmalá, não é bem assim.

Eu não sei o que é crescer com um pai que não te ama. Também não sei como é ter uma família desestruturada que briga o tempo todo, como é ser filho da falsidade de um relacionamento de aparências, como é ter todo o dinheiro do mundo e ser uma pessoa triste, nem como é não ter dinheiro nenhum.

Mas eu sei o quanto doem em mim cada uma das minhas dores. Eu sei o quanto é difícil pra mim sair da cama e enfrentar o mundo a cada novo dia, eu sei o quanto é difícil assumir que os problemas existem, externos às dores, e nada pára pra que você respire.


Imagine uma criança que sempre viveu uma vida "perfeita", com todas as cntps controladas para que ela cresça saudável e feliz, sem decepções e sem ser mimada. Seus pais são carinhosos e presentes, mas passam pouco tempo com ela. Essa criança tem um cão que ela ama muito e que, este sim, é seu companheiro de todos os minutos. Um dia o cão morre e a criança experimenta com a supresa da primeira decepção a dor de perder a criatura que amou com toda a sinceridade. Se no mesmo dia um colega da criança perde um familiar, um irmão mais velho ou mesmo um dos pais, seria justo ele querer convencer a criança e o resto do mundo de que sua dor é maior? Mais que isso, seria cabível pra alguém comparar as duas dores? Racionalmente, é provável que muitas pessoas afirmem que a dor de perder um parente próximo é muito maior que a de perder um animal de estimação, inclusive pessoas que tenham vivido as duas experiências provavelmente testemunhem essa visão da questão. Mas voltemos pra criança que nunca tinha passado por nada parecido. Não faria diferença nenhuma explicar pra ela que outras pessoas passam por situações muito piores e que ela não deveria ficar tão abalada. Seria desrespeitoso ao extremo querer convencê-la de que sua dor não é tão grande.


Ninguém tem o direito de dizer que sua dor é maior ou menor. Assim como ninguém pode se vitimizar perante o mundo argumentando que teve uma história difícil, ninguém deve se sentir culpado por sofrer por motivos que pareçam pequenos para alguém. Ninguém tem o direito de julgar os problemas dos outros nem de condenar a maneira como se lida com eles. Não podemos dimensionar aquilo que não se pode tocar, que não se pode ter contato algum senão o relato. Não podemos nos "carregar" com um repertório de experiências para compará-las em intensidade. E não podendo conhecer as experiências dos outros, podemos apenas comentar as nossas próprias e entender que dói em todo mundo, e pra cada um o máximo é o máximo que ele conhece.


Em relação a nossas dores, estamos realmente sozinhos. Cada um tem que aprender a lidar com elas dentro de si e organizar-se para lidar com o mundo. Mas temos uns aos outros para fazer isso juntos, para nos apoioar-mos mesmo sem entender o que se passa do outro lado. 




2 comentários:

Anônimo disse...

Finalmente meu blog.
E sua chace de revanche!

:)

Anônimo disse...

Me empolguei e esqueci do endereço:
http://sejaanonimo.blogspot.com/