Já é noite quando ela sai do escritório. Senta-se à janela e percorre todo o caminho conversando em silêncio com aquela lua grávida e pesada, pregada no meio do céu. Cantarola a melodia entoada na outra noite, sobre o brilho da lua, lua cheia, na beira do mar, o brilho da lua. Chega em casa e não acende nenhuma lâmpada. Abre a janela e deixa a palidez entrar. Deita-se e olha pela janela. Desse ângulo ela quase consegue trocar a cama por um gramado, ela quase se transporta a olhar o céu de outras noites, com mais estrelas. O frio a obriga a voltar para casa e levantar-se.
A lua cheia sobe mais ainda no céu. Uma moeda do mais valioso tesouro, uma pérola imensa do mar mais profundo, uma esfera de marfim. A lua ilumina a noite porque reflete o sol.
Ela também refletia o sol. Quanto mais quente e intenso brilhasse o sol diante dela, quanto mais perto ele trouxesse seus raios a beijar seu rosto, mais reluzente ela passearia pelo céu, assegurando os campesinos de uma boa colheita e as mães de que seus filhos nasceriam e cresceriam saudáveis. É uma mãe ancestral que ela vê nessa lua, ela mesma redonda e fértil, seu útero inchado e pronto para abrigar a semente, seus seios cheios de leite para nutrir o filho do sol.
Ela então acende uma vela e reza. Reza para essa mãe nos céus, para essa luz refletida do sol se reflita também em si e que ela também tenha luz e que um dia ela dê à luz uma criança dourada. Reza para que o sol esteja cada vez mais perto, que venha a ela na forma de um leão forte e terno e que esse leão lamba sua face e se deite com ela na cama e que olhem juntos a lua e que dêem as mãos e que possam envelhecer juntos e que seus dias e noites sejam sempre repletos de luz.
Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]
"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"
Sê tu mesmo"
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