Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

domingo, 9 de novembro de 2008

2 considerações

a primeira é a seguinte: deveria ter um nome pra essa sensação, mais do que um sentimento, de estar com alguém e querer estar para sempre. dançando no meio do apartamento, na cama, ouvindo música, contando histórias. não é exatamente estar apaixonado. geralmente essa sensação acontece um pouco antes da paixão. geralmente é alguém que você praticamente não conhece, ou mesmo que conheça a muito tempo não conhece desse jeito, não conhece esses pedaços da vida, do corpo, do gesto. essa sensação geralmente acontece quando dois estranhos se surpreendem juntos com a química entre eles e com a compatibilidade de pensamentos e de preferências e de senso de humor e de ritmo. um fica admirado com o desempenho sexual, intelectual etc do outro e de repente se dão conta de que não conseguirão dormir um ao lado do outro. seus corpos não se deixam, os assuntos se emendam, a pele é macia demais, o cheiro é bom demais, o cabelo é fino demais. tudo é inebriante e irresistével, as mãos e as bocas não param quietas e o dia amanhece com aquela pessoa ao seu redor. você não quer voltar pra casa, não quer ir a lugar nenhum se não for com ela, você não quer nem pensar em segunda feira, você quer viajar com ela.
o cara é uma graça, a trepada é incrível, vocês mal se conhecem mas tudo o que dizem soa tão familiar que poderiam ter sido assim desde sempre. esse momentos são tão especiais que o tempo corre completamente diferente. o passado pode até vir todo pra cima da cama com clareza no discurso, mas nos atos, aquelas duas criaturas nasceram agora e tudo o que conhecem do mundo é um ao outro. não se sente ansiedade para absolutamente nada. tudo o que eu quero está aqui do meu lado. e isso é mútuo.
mas você em algum momento volta pra casa, seja 6 ou 36 horas depois e de repente se pega imaginando formas alternativas de relacionamento. porque aquela pessoa é incrível e você sabe que precisa encontrar uma maneira de ter um relacionamento com ela mesmo sem precisar admitir que é um relacionamento.
o que nos leva à segunda consideração, que na realidade é um questionamento: porque a gente de repente passa a ter a sensação de que não pode se apaixonar, de que tem que ser informal, natural, que as coisas têm que acontecer no seu tempo, de que tem que deixar rolar.... quando todos esses eufemismos significam exatamente o contrário?
porque a gente se sente tão à vontade pra se entregar a essa sensação incrível de estar junto e querer estar pra sempre, mas não tem conragem de passar disso? eu fico sempre achando que é porque ele não seria capaz, que ele não vai querer e eu vou perdê-lo, por isso tenho que me conformar com o pouco, porque temos que aceitar aquilo que o universo nos dá e não nos atormentar com o que não temos. sim, eu acredito nisso. mas não acredito que isso me exclua os desejos, os anseios. e de repente, assistindo a esse seriado genial sobre as mulheres de 30 e muitos que eu percebi. cansei dessa vida de adolescente. cansei dessa sensação de que falta alguma coisa, de que estou esperando alguma coisa, de que não é ainda a hora de dizer, porque não é ainda a hora de sentir.
quero ir além do fim de semana e além da sensação, quero poder inundar minha vida do sentimento de querer estar junto para sempre. quero gritar esse sentimento para o mundo e compartilhá-lo com alguém que também o sinta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimo texto. De se surpreender que ainda não tenha recebido ao menos um comentário.
Ótima também a observação de que hj lutamos tanto pela "liberdade no relacionamento", que acabamos presos a essa liberdade e a sensação de vazio que ela provoca.
Quando se é adolescente realmente desejamos "pegar tantos quanto puder", e não se apegar a ningúem. Mas uma hora cansa. E aí vc quer um porto seguro. E cadê ele? Quando vc acha alguém que poderia aceitar esse papel outra pergunta lateja em sua cabeça: será que ele(a) quer?
E vc começa a se sentir só no universo lotado de seres vazios.

PS. Eu tb estava pensando nisso há uns tempos...