Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]

"Resiste ao que resiste em ti.
Sê tu mesmo"

terça-feira, 18 de novembro de 2008

queridinha, de tchekhov


"Ólenka estava sempre amando alguém e não podia viver sem isso"

Minha identificação com a personagem de Tchekhov foi imediata.


"Precisava de um amor que tomasse conta de todo o seu ser, alma e entendimento, que lhe infundisse idéias, desse um sentido a sua vida, aquecesse o seu sangue, que envelhecia"

queridinha, Ólenka, tem 4 amores durante o conto: 2 maridos, 1 amante e 1 menino a quem quer como filho. e só nesses momentos ela é feliz, plena. quando ela está sozinha, está sempre calada e triste, nao tem opiniões, não tem vontades. quando ama alguém, ela adquire todas as preferências, interesses e opiniões do ser amado.

hoje mesmo, mais cedo, eu estava conversando com uma amiga sobre uma coisa que percebi. para mim existe uma clara distinção entre o "mundo real" e os relacionamentos. são duas histórias paralelas de que sou protagonista, são papéis diferentes que eu desempenho em cada uma , são compartimentos separados da minha vida. lógico que isso tudo só existe dentro da minha cabeça, mas existe alguma coisa no mundo que na realidade não exista só dentro da minha cabeça?

no caso de queridinha, o  "mundo real" está completamente subordinado ao relacionamento amoroso. não importa onde, nem quem, nem sob que condições, importa amar. todo o resto vem a partir disso, vem de acordo com a vida que esse amor permite. 

é assim que eu me sinto desde nem me lembro quando. e assim como queridinha, sempre que não amei ninguém faltou algo, faltou chão.

mundo real hoje é muito maior que era numa cidadezinha na russia no fim do século xix. o meu mundo real é o mundo inteiro. pode nao ser a realidade, mas a sensação é que todos nós podemos ser qualquer coisa. o self-made man pode ser um mito, mas é um mito em que acreditamos de um lado  por esperança, do outro por desespero.  mas o mundo inteiro é muito grande e pra muitos de nós o susto de escolher uma carreira dentre as tantas opções do vestibular não passa mesmo 5, 10 anos depois. o que fazer com o resto da sua vida é uma decisão assustadora. e a angústia dessa dentre tantas outras escolhas me assombra constantemente.

mas de alguma maneira, estar com alguém ou ter alguém com quem se queira estar é um funil pra essa amplitude do mundo. quando se pode estar em muitos lugares, alguém querido é um bom motivo para estar em um lugar específico. se conheço alguém e acontece o clique, faço de tudo, tomo esse envolvimento como referência para todas as decisões e encaminhamentos.

se queridinha, como aponta o psicanalista Guilherme Gutman vive na realidade um relacionamento dela com o amor em si, nao com os amantes, essa é talvez nossa principal semelhança. sempre tive essa percepção clara sobre meus relacionamentos: o importante é amar alguém, nao importa quem, nem onde, nem sob que circunstâncias. lógico que não ao pé da letra, lógico que ninguém está aí pra todo mundo, mas aí vai do clique.

o mundo é muito grande e, principalmente, muito absurdo. amar é uma das poucas coisas que fazem sentido. é um bom motivo.

Um comentário:

Graciela disse...

Perfeito, perfeito, queridinha