Krishna em O Mahabharata [trad. Jean-Claude Carrière]
Sê tu mesmo"
domingo, 27 de dezembro de 2009
em 2009 eu aprendi
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
domingo, 6 de dezembro de 2009
Sobre arte, comunicação... e design.
sábado, 28 de novembro de 2009
terça-feira, 10 de novembro de 2009
uma borboleta enorme estampada no peito
domingo, 8 de novembro de 2009
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
pedido
domingo, 1 de novembro de 2009
novembro chegou com chuva
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
O guia gentil
domingo, 4 de outubro de 2009
a luz e a sombra
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
te escrevo
sábado, 8 de agosto de 2009
Dança Cósmica
Seria um engano concordar com esse raciocínio e então concluir que a coreografia nos isenta de fazer escolhas, e agir no mundo. O que é preciso entender é que os momentos em que a vida nos exige tomar decisões, também eles fazem parte da dança. E nossas decisões elas mesmas já eram antes mesmo de nascermos. A dúvida, as perturbações da mente com as possibilidades criam a ilusão de que decisões diferentes poderiam ser tomadas, de que as coisas poderiam ser diferentes. Nada poderia ser diferente do que é. Não existem possibilidades. Existe apenas o que é, existe apenas o agora. Não existem as decisões que não tomamos, as ações que não escolhemos por prudência, falta de coragem ou qualquer motivo. Existem apenas as ações que realizamos e suas consequências, e as consequências delas e assim por diante.
É preciso também entender que essa sequencia de consequencias, de ações e reações, ela tambem é uma ilusão. Tudo aquilo que é faz parte de uma única cadeia de eventos, que é a própria existência. Indagar-se sobre o evento que deu origem a essa sequencia, da qual a grande explosão supracitada é provavelmente apenas mais um evento, é inevitável. E a reflexão é válida, e é provável que seres diferentes cheguem a raciocínios diferentes, mas a verdade que se me revela é que mesmo a idéia de sequência é ilusória. Não existe um evento depois do outro, existe apenas o agora. Existem todos os eventos ao mesmo tempo em cada partícula de matéria no mundo, em cada fluxo de energia.
São as interseções entre essas aparentes decisões que criam os fatos, são os esbarrões que configuram o que chamamos de eventos, sejam esbarrões entre células, entre criaturas, entre astros. Nossa mente é programada para acreditar que fazemos escolhas. Se eu não tomar a decisão de levantar o corpo da cama, ele não se levantará sozinho. Se não acreditássemos nas possibilidades, é possível que não fôssemos capazes de agir, que ficássemos prostrados à espera do mundo acontecer. O que não deixaria de ser uma decisão e que talvez até encurtasse nosso caminho em direção à luz. Mas nossa mente é programada diabolicamente rumo ao progresso. Suas ferramentas são a curiosidade, a ambição, a luxúria, e tudo o mais que o diabo goste. Acreditar nas possibididades é sinônimo de acreditar na liberdade, na liberdade da humanidade, na liberdade de um povo, na liberdade de um indivíduo. E todas essas ideias são também ilusões, já que isso a que chamam indivíduos são apenas aglomerações de matéria e sopro divino, mas não tão diferentes das outras formas de aglomerações de matéria, e o mesmo sopro divino que há em todas as formas de vida. As combinações resultam em padrões -- indivíduos, espécies -- porque olhamos o mundo com um olhar adestrado a identificar esses padrões. Se mudássemos o olhar, talvez mudássemos também as categorias e então não víssemos mais homem ou mulher, jovem ou velho, eu ou você.
A liberdade real, a única liberdade que existe, é aquela que liberda de todas as ilusões, é o auto-conhecimento, o discernimento, o desapego. Se não te prendes a nada, a nenhum ser, a nenhum conceito, a nenhum ideal, se principalmente não te apegas a ti mesmo por saber que teu ego é a maior de todas as ilusões, aí então és veradeiramente livre.
Realizar todas essas ideias, por simples que pareçam aqui escritas, não é nada simples. Talvez por isso a maioria das mente humanas sejam programadas para acreditar em todas essas ilusões, tempo, possibilidades, indivíduos. Mas a alguns seres acontece de compreenderem essas verdades, além da compreensão espiritual, e então esses seres experienciam tudo isso. Suas ações são as únicas possíveis, como são de todos os seres, como são todos os fatos, mas o são conscientemente. Não há dúvidas, não há insatisfações, como no comportamento espontâneo de uma criança cujo olhar ainda não foi conformado, não há julgamento sobre os eventos. Há a consciência de que tudo é, e de que nada poderia ser diferente. Esses seres são os que agem conscientemente a vontade do Guru, a vontade de Deus, a vontade do universo. São os que conscientemente dançam a dança cósmica, porque lhes foi revelada a coreografia.
sábado, 1 de agosto de 2009
Tinha vontade de dizer-lhe que não a procurasse mais. Que não a convidasse para sua festa de aniversário ou para qualquer outra ocasião enquanto fosse continuar a tratá-la daquela forma esquizofrênica. Um dia carinho, suor e intimidade, no outro cumprimentos vagos e olhares distantes, no outro um gesto inesperado de quase romantismo. Não, nada daquilo a alimentava ou satisfazia, pelo contrário. Todos aqueles gestos só a dilaceravam, faziam-na pendular entre alegria e sofrimento, entre esperança e decepção.
Não iria na festa e esperava ter força para recusar o que mais lhe fosse oferecido. Se um dia ele se importasse o suficiente a ponto de sentir na sua ausência a mesma falta que ela sentia na sua presença, ele que a procurasse. Não com o convite leviano para uma festa qualquer, mas para uma conversa sincera que ela mesma penitenciava-se um pouco por nunca ter promovido, mas sabia que lhe faltara oportunidade.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
minutistas
quarta-feira, 15 de julho de 2009
tenho a impressão de ainda não existires
tenho a impressão de não transitares pelo mundo
como transitamos confusos todos os demais
te imagino embalado num sono profundo
num invólucro pegajoso e transparente
membros retraídos, posição fetal
quase não respiras, não sonhas, não sabes
por aqui o dia amanhece chuvoso
vou ao trabalho, ao cinema, ao supermercado, ao aeroporto
não nos cruzamos em nenhum desses lugares
tu não transitas por eles
haverá o dia em que despertarás
e teremos a surpresa de nos esbarrarmos
para descobrir que eu também estive numa bolha
enquanto me procuravas
domingo, 12 de julho de 2009
alívio
terminada a conversa, eu estava meio eufórica. um sorriso sincero, bastante nervoso, é verdade, as mãos ainda geladas, mas nenhum pingo de decepção. não falei esperando ouvir nada diferente do que ele disse. pelo contrário. tive medo de que ele fosse reagir mal, sumir, fazer de conta que o computador deu pau e nunca mais olhar na minha cara. a naturalidade com que conseguimos lidar com a situação anuncia a boa amizade que finalmente poderá florescer.
não sei porque eu funciono desse jeito. mas sinceridade pra mim é um imperativo. é muito difícil manter uma conversa com alguém e não dizer tudo o que me vem à cabeça. seria insustentável continuar convivendo com ele sem ter certeza de que ele sabia. e seria impossível também superar, esquecer, deixar de criar expectativas, sem abrir completamente o jogo e ter certeza de que ele não tinha um pingo de interesse. agora eu posso dormir em paz e não ficar mais nervosa a cada vez que a gente for se encontrar ou a cada vez que ele vier me procurar. e se por algum acaso do destino que, vai saber, sempre nos prega peças, ele um dia sentir uma pontinha de curiosidade de saber como poderia ter sido, meu gesto deveria deixá-lo confortável pra dizer tão logo a vontade lhe passe pela cabeça. mas repito, não tenho nenhuma expectativa em relação a isso.
qualquer pessoa pra quem eu contar (e escrever aqui não deixa de ser sempre uma forma de contar pro mundo inteiro) talvez me ache completamente maluca. mas não sei, acho que tem a ver com o meu modo de ser 8 ou 80. se eu gosto de alguém, eu gosto muito. e se eu me disponho a esquecer, eu tenho que passar por um processo muito radical. como cortar relações com ele não era uma opção, visto que eu realmente aprecio a amizade que brotou espontaneamente, minha única alternativa era desabafar pra atração sair de mim junto com as palavras.
o que elas dizem
Aquela acrescenta que cresce no mundo o número de pessoas assexuadas, aquelas pessoas que simplesmente não sentem falta de sexo, para quem sexo simplesmente não importa. Nessa hora todas as outras concordam que isso é um absurdo e que assim onde vamos parar? E concordam ainda que quando a vontade aperta o jeito é sair e resolver isso rápido, sem se conformar com qualquer coisa, mas que não dá pra ficar sem. Eu não digo nada, mas me ocorre que venho me sentindo melhor desde que deixei de sair atrás de resolver esse assunto e que não é que não me dê vontade às vezes, mas que me dá sim um contentamento saber que a vontade passa e que é possível sentir cada vez menos esse impulso e encontrar satisfação em tantas outras coisas que hoje me parecem sim mais relevantes.
Uma outra diz que a nossa geração está muito estranha, que tem alguma coisa muito errada, que ela se esforça para manter o contato social, mas que é difícil, que as pessoas só soltam coisas pontuais, perguntam o que você faz, e twittam coisas, mas que é tudo supercifial demais, que as aparências importam demais. Diz que acha muito estranho certas posturas renunciantes, auto-declaradas espiritualizadas, como a de um sujeito com quem ela cruzou em algum grupo de amigos, que se coloca em outro plano, supostamente realizado em si mesmo, observando os outros de longe, de cima, sem se envolver, se bastando. A isso acrescento que não há nada de espiritualizado em alguém que acredite olhar alguém de cima, pelo contrário, espiritualizado é aquele que vê Deus por trás de todas as máscaras e que portanto olha a todos como se estivesse diante do espelho e com o mesmo amor nesse olhar bastando que esteja diante de si um ser vivo. E que o caso em questão se assemelha mais àquelas pessoas a quem o sujeito se considera oposto, naqueles que trabalham freneticamente, compram freneticamente, bebem freneticamente, trepam freneticamente e se regojizam em acreditar que se bastam, que tudo aquilo que lhes falte poderão comprar. Ela diz também que é importante participar das interações sociais, que a renúncia é a negação de parte da condição humana e eu então não sei dizer se tais interações, tão moldadas pelo tempo em que se apresentam podem ser consideradas parte da condição humana, e tenho a intuição de dizer algo mais, mas não chego a desenvolver.
Aí vem ela e muito francamente se pergunta se não teria sido sempre assim, que algumas das pessoas sempre se sentiram presas nos relacionamentos e desejavam libertar-se mas não podiam devido às amarras sociais que lhes obrigavam às instituições como a família nuclear, o casamento, assim como a missa de domingo. E que algumas outras sempre se sentiram inclinadas a viver com um só parceiro por toda a vida, ou que nem precisaram sentir qualquer inclinação, que foi essa sua natureza primeira e assim se comportaram a vida toda. Com ela eu tendo a concordar de todo. Acredito que nessa definição turva que deve haver da condição humana é preciso não esquecer de dizer que as pessoas são bastante diferentes e que há sim muitos condicionamentos históricos e culturais, mas que há também índoles, inclinações, caráteres, vai saber... E que por mais ou menos raros que se tornem alguns tipos em determinados lugares ou épocas, o que mais há é variedade, mas essa variedade não nos individualiza a ponto de que seja impossível encontrarmos pares. Por mais medo que sintam alguns de ligar no dia seguinte, por mais que outros façam questão de dar festas em seus grandes apartamentos de solteiros, haverão sempre aqueles que experienciarão a felicidade na vida em comunidade e que terão alegria em dar as mãos sem qualquer malícia e entoar melodias que os elevem e que dentre eles alguns voltarão para casa tranquilos e satisfeitos com o divino que sabem habitar em si, mas outros ainda encontrarão no grupo olhares que falarão com num outro registro de intimidade e então decidirão entrelaçar suas vidas até enrugarem suas mãos que permanecerão carinhosas.
sábado, 11 de julho de 2009
domingo, 5 de julho de 2009
muitas oportunidades
minha mãe disse tudo hoje conversando na cozinha. pelo menos o que o imaginário coletivo vende é que qualquer um pode fazer qualquer coisa em qualquer lugar. somos uma geração que não vê limites, em que todo mundo se entende como cidadão do mundo, que nada é impossível, que tudo pode e qualquer experiência é válida, o importante é ter o máximo delas.
não sinto isso o tempo todo. mas sinto com frequencia e me dá um medo tremendo. é terrível pensar que conquistar ou não alguma coisa só depende de mim, que não há restrições. é uma liberdade tão grande que quase trava. às vezes dá vontade de pedir pra parar tudo que eu quero descer. até porque são muitas oportunidades, muitas opções, mas só as que estão previstas no sistema.
no fim das contas ninguém pode realmente fazer o que quiser, só o que a matrix permite. e a matrix ainda te confunde dizendo que você pode fazer qualquer coisa e te cobrando a conquista da felicidade.
sábado, 4 de julho de 2009
3 da manhã
tem dias em que eu preciso me sabotar e não fazer o que tinha decidido, ou fazer exatamente o que tinha decidido não fazer mais.
tem dias em que eu preciso colocar a máscara mais feia.
tem dias em que eu preciso rir muito alto primeiro porque me sinto insegura e depois preciso dizer um monte de coisas que eu me arrependo enquanto digo e aí digo outras piores porque tenho vergonha de admitir que estou triste.
terça-feira, 30 de junho de 2009
retornaremos
todos retornaremos
encontraremos, cada qual a seu tempo
o caminho para voltar a ser
aquilo que éramos
antes de sermos
nós, vós, eles
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Minha reação foi muito mais triste do que eu demonstrei. Isso porque o claro que não dele veio irônico, cheio de sorrisos, pra esconder que pra ele é mesmo muito triste não gostar do que faz. Isso foi no primeiro esbarrão.
Na segunda vez que nos vimos tocamos no assunto de novo. Eu perguntei há quanto tempo ele está nessa faculdade -- cinco anos. E você vai passar o resto da vida fazendo uma coisa que em cinco anos já não suporta?.
Irônico e sorridente de novo, de novo mascarando o desespero que deve aflorar alguma hora, ele falou em dinheiro. Falou que seu plano é prestar um concurso público, sei lá, ganhar muito dinheiro, e ser feliz nos fins de semana, viajar. Ensaiei falar alguma coisa pra ele sobre felicidade. Que não tem nada a ver com dinheiro nem necessariamente fins de semana e viagens, mas vai dizer isso em 2 minutos? Nem em 2 horas, pra alguém que não esteja disposto a ouvir.
A verdade é que me disseram isso e repetiram e repetiram e eu só entendi quando não foi ninguém que disse, quando fui eu que entendi e pronto.
Perguntei pra ele do que ele gosta e foi aí que ele fraquejou. Disse que não sabe, que vive se perguntando e não acha a resposta. Me solidarizei. Lembrei do dia que a analista me pergunto que coisas são essas que você gosta, porque eu vivia falando dessas supostas coisas e qual não foi o meu desespero quando eu não consegui dizer de verdade eu gosto disso, disso e daquilo.
Aí no outro dia, na mesma semana ou na outra, encontrei um outro amigo, no mesmo cruzamento. Sorrisão, que bom te ver, abraço gostoso, beijo carinhoso, saudades sinceras. Perguntou o que eu estou fazendo e eu respondi que estou trabalhado numa coisa que eu gosto muito. Depois veio ele no GTalk comentar que eu estou muito bonita (e nao que eu estava), que é muito bom me ver assim feliz, rindo à toa. E disse ainda que o universo agradece.
Aí eu fiquei pensando que todo mundo devia rir à toa, e que ninguém devia se permitir fazer com a vida algo que não goste de verdade e que o universo inteiro agradeceria se todo mundo investisse o tempo que fosse preciso pra descobrir o que gosta e aí sim fosse fazer. Independentemente de quanto fossem pagar por isso. Porque não tem pagamento maior que um sorriso gratuito ao meio dia em plena cinelândia.
domingo, 28 de junho de 2009
evoluir
- entender que não faz bem
- aprender a não procurar
- aprender a recusar
- aprender a não desejar
- finalmente ser indiferente
estou ainda entre o terceiro e o quarto estágio, por isso é importante manter-me distante
domingo, 21 de junho de 2009
gratidão
por ter me concedido a oportunidade de vir a esse mundo para aprender e evoluir e também agir, transformando a realidade em prol daquilo em que acredito.
por eu ter nascido filha de uma mãe amorosa, inteligente, sensível, dedicada e responsável, que sempre deu seu melhor por mim, me ensinou valores espirituais por intuição e que hoje se permite também aprender comigo.
por colocar no meu caminho tantos seres especiais e iluminados que me inspiram, me confortam, compartilham das minhas alegrias e me dão abrigo na minha dor, que me ensinam tanto através de suas falas, olhares e gestos.
por sincronizar os acontecimentos em minha vida para que eu esteja sempre aprendendo e crescendo.
por me proporcionar experiências que me permitem sentir sua presença sempre perto, dentro e ao redor de tudo e de todos e que fazem crescer esta lista.
sábado, 20 de junho de 2009
sem expectativas
Não me precipitei sobre as possibilidades antes e também não me perguntei sobre o que virá, está aí o maior aprendizado.
O importante é saber apreciar cada coisa exatamente do jeito que é.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Coragem de escrever
Não tem coragem nenhuma em fazer isso. Sem citar nomes, e sabendo que o personagem não sabe da existência desse espaço, é muito fácil escrever parágrafos e parágrafos sobre minhas fantasias e devaneios.
Coragem seriam outras coisas. Coragem seria virar pra ele com a maior naturalidade do mundo e dizer "então, eu acho que estou afim de você, você reparou?". Ou deixar a minha mão pousar na dele e ver como ele reaje. Ou mesmo mandar pra ele o endereço do blog pra ver se cai alguma ficha.
Não tenho coragem pra nada disso. Não solto nenhuuma indireta. Convido pra um ou outro evento como quem não quer nada. Fico esperando o dia que ele vai resolver aparecer.
A teoria que eu defendo agora é a seguinte: se for pra acontecer alguma coisa, ele vai se aproximar. A aproximação vai ser mútua e nenhum dos dois vai ter que "correr atrás", nem ser corajoso nem nada. O melhor romance é o que ninguém tem que tomar a iniciativa, surje naturalmente entre os dois.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
redonda e fértil
A lua cheia sobe mais ainda no céu. Uma moeda do mais valioso tesouro, uma pérola imensa do mar mais profundo, uma esfera de marfim. A lua ilumina a noite porque reflete o sol.
Ela também refletia o sol. Quanto mais quente e intenso brilhasse o sol diante dela, quanto mais perto ele trouxesse seus raios a beijar seu rosto, mais reluzente ela passearia pelo céu, assegurando os campesinos de uma boa colheita e as mães de que seus filhos nasceriam e cresceriam saudáveis. É uma mãe ancestral que ela vê nessa lua, ela mesma redonda e fértil, seu útero inchado e pronto para abrigar a semente, seus seios cheios de leite para nutrir o filho do sol.
Ela então acende uma vela e reza. Reza para essa mãe nos céus, para essa luz refletida do sol se reflita também em si e que ela também tenha luz e que um dia ela dê à luz uma criança dourada. Reza para que o sol esteja cada vez mais perto, que venha a ela na forma de um leão forte e terno e que esse leão lamba sua face e se deite com ela na cama e que olhem juntos a lua e que dêem as mãos e que possam envelhecer juntos e que seus dias e noites sejam sempre repletos de luz.
domingo, 7 de junho de 2009
quatro paredes, eu, você e Deus
Porque eu quero encontrar com você em particular
Há tempos tento encontrar um bom momento
Alguma ocasião propícia
Pra que eu possa pegar sua mão, olhar nos olhos teus
Seria bom, quatro paredes, eu, você e Deus
Acho um pouco triste que muita gente não ache esse verso romântico, que muita gente não entenda como é bom estar com alguém e sentir Deus junto. Principalmente se os dois sentirem. Vivemos uma época de ceticismo, eu sei. Tem uma certa ridicularização das religiões, um preconceito enorme contra qualquer manifestação de espiritualidade. Já estive entre quatro paredes com um cara que só fazia falar mal de toda e qualquer manifestação religiosa. Evidentemente não fluiu.
Eu acho linda essa imagem. Melhor ainda seria Na natureza, eu, você e Deus, mas entre quatro paredes já me parece bastante satisfatório. O importante é poder olhar nos olhos e ver amor, e ver Deus nesse amor, ou vice-versa. E portanto, finalmente caiu a ficha, é muito importante que esse alguém com que se está entre quatro paredes também dê valor a isso. Só assim pode-se estar à vontade.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
eu vejo você
outro dia eu sonhei com você e eu beijava você. mas não era você de verdade. era só o seu rosto. não tinha o som do seu riso nem o brilho dos seus olhos.
eu queria me ver beijando você. ou melhor, queria ver você me beijando. mas eu não consigo, isso eu não vejo. eu vejo você curioso me perguntando coisas e até você me contando coisas. eu vejo você me admirando e se importando com a minha opinião e dando valor ao que eu digo. e eu só digo isso tudo porque quero que você goste de mim. eu vejo você sorrir sinceramente diante da minha presença. mas eu vejo você sorrindo enquanto beija essa outra mulher.
sábado, 30 de maio de 2009
pra que serve a faculdade?
não fossem um monte de sustos que eu vou levando a cada tarde.
Primeiro baque: o ritmo. Muito mais rápido do que eu esperava. O cronograma do que estamos fazendo na empresa faz o cronograma de qualquer projeto da faculdade parecer uma piada. Mas depois de 6 anos trabalhando no ritmo faculdade pública brasileira, quem disse que eu acompanho? Já saí do trabalho vários dias me sentindo uma lesma, que não dei conta do que devia...
Segundo choque: a (in)competência. Eu estudo design. Há 4 anos. Designers sabem se expressar visualmente. Eu devia saber me expressar visualmente. Aí me pedem pra transformar os relatórios de pesquisa em visualizações e eu travo. E voltando pra casa frustrada de novo, tento pensar o que eu já fiz na faculdade que seria similar. E a conclusão é no mínimo preocupante, senão vergonhosa: nada. Nunca precisei fazer nada assim em nenhum projeto da faculdade.
Terceiro balde de água fria: a responsabilidade. Acho que nunca na faculdade eu senti o meu na reta tanto quanto eu sinto quando tenho que cumprir uma tarefa no trabalho. E me pergunto porque, já que eu já tive trabalhos cabeludos pra entregar, já tive que virar noite e tudo o mais. Mas sabe o que? na faculdade você tem várias chances. Se for mal nesse trabalho vai ter outro. Se for mal em todos os trabalhos, o professor é fanfa e vai te passar com uma nota mais ou menos. Se na pior das hipóteses, o professor não for fanfa, ou você conseguir ser mais fanfa que ele pra ele te reprovar... ano que vem você faz a matéria de novo! Mas vai pedir pro seu chefe pra fazer de novo?
E outros sustos vão aparecendo. Meu mantra pessoal está virando "respira, você vai pegar o jeito". Espero pegar mesmo, e que seja logo.
Não estou dizendo que não goste do trabalho, muito pelo contrário. Estou amando. Em poucos dias estou aprendendo uma cara de coisas que eu achava que sabia e na verdade não tinha idéia. Ouvir falar, ler a respeito, comentar no boteco, até escrever a respeito de algo não se compara a fazer na prática. É até idiota chegar a essa conclusão, mas taí, estou passando por isso e fiquei surpresa. Caloura? É muito estranho se sentir caloura quando eu finalmente estava me sentindo A veterana.
Falando assim parece que a faculdade é uma pegadinha, né? Perdi as contas de quantas vezes essa semana tive vontade de trancar a faculdade, de chutar o balde e reprovar alguma matéria, de aumentar minha carga horária no trabalho, porque é lá que eu estou aprendendo mesmo. Mas aí, peralá, não é possível que esse tempo todo de faculdade não tenha servido pra nada.
Estranhamente, eu tenho certeza de que serviu pra alguma coisa. So far, minha conclusão é que eu não aprendi quase nada do que eu preciso para estar nessa empresa. Mas eu aprendi muito do que era preciso para entrar para essa empresa. Para saber que essa empresa existe e me interessar por ela e querer trabalhar lá. E para quererem que eu trabalhasse lá, claro. Na real, grande parte desse conhecimento veio de uma curiosidade própria, de horas na internet lendo sobre coisas que me interessam. Mas esse interesse não brotou sozinho, e aí eu tenho que confessar que foi despertado de coisas que eu conheci na faculdade ou através dela.
Minha mãe costumava me dizer, quando eu estava fazendo vestibular, que a faculdade é uma grande bibliografia. Que mulher sábia, a minha mãe. Eu devia escrever mais sobre ela. É exatamente pra isso que serve a faculdade, pra pegar referências, pra abrir portas e janelas, pro mundo e pra dentro de você. São os caras que estão na bibliografia de um ou outro professor que se presta a dar a bibliografia, uma ou outra palestra que você assiste no primeiro ano, mesmo se ainda calouro perdidão, mas que te faz a cabeça, um ou outro papo no CA, uma ou outra viagem com a galera, um ou outro encontro de estudantes, uma ou outra pessoa que você conhece no corredor... Em aula mesmo, sinceramente... aprendi alguma coisa, sim, mas olha, foi pouco.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
domingo, 17 de maio de 2009
tocar piano
ganhei um piano de aniversario entao sentei pra tocar. tocar de novo, voltar a tocar piano. é tão confortável tocar piano. mais até do que escrever sobre isso. dá vontade de nunca mais levantar daquele banco.
eu ia escrever que não sei porque nunca deu em nada o meu tocar piano, nunca cheguei a lugar nenhum com todos esses instrumentos que fui aprendendo e abandonando. mas na verdade eu acho que eu sei sim.
é muito bom tocar. e tocar basta. não estudar, fazer exercícios, subir e descer escalas cada vez mais rápido, não, isso nao tem graça nenhuma. é bom deixar os dedos deslizarem numa harmonia menor, cada acorde um arrepio.
sábado, 16 de maio de 2009
quinta-feira, 7 de maio de 2009
o que deve ser feito
Mas a coisa legal que está acontecendo não é as pessoas terem começado a dizer essas coisas, é eu ter começado a ouvir. Dentro de mim eu começo a acreditar no que eu digo pros outros, eu finalmente me convenço e aí passo a dar créidto ao que me dizem de volta. Pela primeira vez na vida, quando eu deixo os pensamentos vagarem me vêm imagens de situações das quais eu me orgulharia. Me vejo defendendo um ponto de vista cheia de argumentos, vejo meu nome tornar-se referência sobre determinados assuntos, vejo o que eu digo, escrevo e, principalmente, faço, ganhando crédito em esferas que insistem em ser cada dia maiores. A maior alegria é que eu me veja lá, e goste do que eu vejo.
Há alguns meses eu passei por um processo intenso de revisão de valores e atitudes, uma viagem profunda de auto-análise e uma missão de auto-resgate. No meio desse caminho percebi um sintoma muito grave: eu não conseguia me ver em situações positivas. Não conseguia imaginar a mim mesma fazendo nada que eu realmente quisesse. Eu só queria essas coisas, estar nesses lugares, eu não me via lá. Eu tinha vergonha demais da minha própria imagem pra me ver fazendo essas coisas. Aí num dado momento eu entedi que tinha que parar de querer e começar a fazer as coisas. Fazer o que tem que ser feito porque sabe que tem que ser feito, cortar o eu queria da frase, trocar por eu vou.
Há muito tempo eu dizia isso e agora volto a dizer: no fundo a gente sempre sabe o que quer fazer. Não existe a dúvida, existe a insegurança, existem os medos, as travas. Se você se liberta dessas amarras, se ultrapassa essas barreiras, você consegue fazer o que quer, e então estará fazendo o que deve ser feito. E quando você começa a fazer o que deve ser feito, você se sente bem, se sente seguro, isso te dá uma energia que você não acreditava poder existir. E você chega onde não esperava, sem perceber, sem ter procurado, num belo dia você olha e está lá. E aí você entende que se chegou até ali, vai chegar muito além. E aí as imagens vêm, promissoras.
Só não pode achar que agora está tudo resolvido e garantido. O movimento é ir sempre pra frente, cada vez um pouco mais, cada vez mais direto ao ponto, fazer o que deve ser feito, sem rodeios.
terça-feira, 5 de maio de 2009
um cara tipo o Leo
segunda-feira, 4 de maio de 2009
domingo, 3 de maio de 2009
poema pra quando estiveres cinza
em que a cama engole mais que descansa,
em que a comida escraviza mais que alimenta,
em que os braços pesam mais que produzem,
em que os versos confessam mais que rimam...
não faz desses os dias mais notórios,
mas também não tenta obrigá-los a passar despercebidos.
pensa no que fizeste e que não fizeste ontem pra que te sintas assim hoje.
e pensa no que fizeste e que não fizeste nos dias em que tuas cores foram outras.
e amanhã, quando amanhecer o dia e o sol novamente lamber tuas pernas,
abraça-o e pula da cama como sabes que és capaz
porque já o fizeste.
agora que fizeste de tudo, agora que tantas vezes foste e voltaste
escolhe ficar onde as cores são mais alegres
retrocesso
pelo menos serve pra acordar e dizer, é, eu tinha razão afinal, não foi uma decisão infundada.
e aí você faz uma faxina, recolhe os cacos, põe o lixo pra fora e começa tudo de novo.
errar duas, três, vinte vezes, nem sempre é burrice. é que os processos de aprendizado às vezes têm mesmo que ser lentos.
sábado, 2 de maio de 2009
paisagem
é provável que um dia eu não tenha mais essa janela, esse quarto, esse endereço. como eu vou sentir saudades desse lugar, meu deus...
sexta-feira, 1 de maio de 2009
ser lida
de uns tempos pra cá eu resolvi falar menos e ouvir/ver mais. não por acaso acho que o que sai da boca e dos dedos foi ficando mais valioso. acho que eu vim ao mundo como multiplicadora, disseminadora de valores e idéias principalmente. se eu acredito em alguma coisa eu saio contando pra todo mundo mesmo, saio mostrando, "olha que legal isso!". e se eu formulo uma opinião sobre alguma coisa (geralmente demora) eu não consigo fazer outra coisa senão botar esse pensamento no mundo. o objetivo não é convencer ninguém, mais expor mesmo, pra que outras pessoas possam compartilhar daquele pensamento, acrescentar pontos a ele ou que possam discordar e me mudar de idéia... não sou nem um pouco eficaz na hora de colocar na prática, mas se tem uma coisa que eu sei fazer é falar bonito e inspirar essas pessoas incríveis que depois metem a mão na massa e realizam!
não estou escrevendo isso tudo pra me gabar, é só pra registrar o quanto tudo isso importa e me deixa feliz. agradeço muito, muito mesmo pelos comentários, seja no meu blog, nos blogs dos outros, no twitter, ao vivo, ou onde quer que seja. eles só encorajam e inspiram a escrever mais, formular mais, aprimorar e seguir construindo essa alguma coisa ainda disforme ou multiforme que de vez em quando eu consigo juntar os pedaços e dizer "é, até que eu fiz alguma coisa de boa nessa vida..."
quinta-feira, 23 de abril de 2009
nostalgia suburbana
Nas últimas semanas entrevistei famílias na Penha, Caxias e Brás de Pina (pra quem não é do Rio, são bairros do subúrbio do Rio). Cheguei a ir lá no alto numa favela na Penha, não resisti a fotografar a vista da laje.
De impressionar qualquer boa alma a desenvoltura com que as vidas se trançam nas vizinhanças suburbanas, nas favelas, que são realmente comunidades no sentido mais real da palavra. Famílias morando em apartamentinhos no mesmo prédio, portas destrancadas, um monte de sobrinhos, de sangue e de corredor, entrando e saindo, comendo bolo e tomando coca-cola. As crianças mais velhas levam os bebês no colo enquanto as mães e tias fritam bolinhos de chuva pro lanche, porque tem visita ou porque a vizinha estava com vontade e pediu pra fazer e os maridos se ajudam a montar um armário novo pra cozinha. Cunhadas passam pra dar um abraço e ficam pra comer um pratinho, as panelas não têm fundo pra não faltar almoço pra nenhuma visita que apareça. Prédios quase não se vê, viram ponto de referência. Só casinhas, muito simples, e árvores e pracinhas fofas e aquele céu azul pra todos os lados. As ruas sujas sim, mas tão cheias de vida no colorido das cadeiras de plástico e na simpatia do português do boteco da esquina... A intimidade dos sorrisos e de chamar todo mundo pelo nome enquanto se cruza as ruas desvia a atenção do lixo espalhado pelo chão e da precariedade das construções, assim como as risadas e o carinho escondem as infiltrações. Os móveis baratos conquistados com o suor do trabalho do filho se tornam dignos do mais nobre dos homens e são motivo de tanto orgulho que ninguém tem dor nas costas.
E agora vem a parte nostálgica. Dá muita vontade de ter uma tia, uma avó, uma amiga querida morando lá do outro lado do túnel, de pegar a Brasil pra almoçar com a família no domingo. Aqui desse lado eu não sei nem o nome da minha vizinha de porta, que passa o dia sozinha na janela com jeito de quem tem vontade de relaxar os ombros e se deixar cair no pátio lá embaixo que ela deve ter todos os cantinhos mapeados na memória de tanto olhar. A vida do lado de lá é mais suada, o dinheiro é contado que quase não dá mas acaba dando, as crianças se criam meio que sozinhas mesmo, nos bandos descalços subindo e descendo as ladeiras e sabe lá o que elas não vêem naqueles becos, mas é uma vida mais sincera. Há sonhos sim, e ilusões e delírios de consumo. Mas as relações são tão mais concretas, tão mais extrovertidas... O Flusser diz que quanto mais "evoluído" (no entendimento progressista do homem moderno) o animal, mais inibido. A desinibição suburbana me faz olhar melancólica pra esse empilhamento de casas anônimas que a gente vive do lado de cá.
sábado, 11 de abril de 2009
minhas costas no teu peito
Continuo sentindo teu peito forte atrás das minhas costas, teus braços quase querendo me rodear. Que incrível a sensação que algo tão simples como dançar escorada no peito de um homem alto pode causar.
Tua passividade foi em não prosseguir ou não me afastar?
segunda-feira, 6 de abril de 2009
O que é e o que não é design
O que é design
Design, no meu entendimento, é uma maneira de pensar sistemas, estruturas e processos de modo a otimizar os recursos disponíveis, a partir de requisitos previamente determinados, para projetar algo que será utilizado num momento futuro por alguém(ns) e para algum fim. É de competência do designer considerar todos esses fatores: os recursos disponíveis, os requisitos pré-determinados, aquilo que resultará do projeto, o sujeito para quem se projeta e a finalidade para a qual se projeta.
Mas essa definição, bastante ampla, não basta sozinha. É necessário acrescentar que o design, como profissão, surge num determinado momento histórico – pós revolução industrial –, e que seu surgimento está atrelado às condições políticas e econômicas da época, ou seja, que o design surge como atividade profissional no contexto da ideologia industrializante burguesa, uma ideologia progressista que confia na ciência e na técnica e que valoriza o método, o planejamento e a razão (SOUZA, 2008).
Querer chamar de design o resultado de qualquer atividade anterior ao surgimento do design como profissão nos induziria ao erro de considerar design qualquer atividade de projetar, planejar, configurar, esquematizar ou arquitetar algo. Isso é um dos sentidos da palavra design, que é verbo e substantivo na língua inglesa e pode ser empregada livremente como qualquer outra palavra, mas não é suficiente para definir uma profissão.
Também é importante fazer a ressalva de que o resultado do trabalho do designer não é necessariamente o produto em si, mas sim o projeto, ou seja, instruções (em geral representadas graficamente) para a realização de algo. O designer pode ser ele mesmo o executor em determinados casos, mas o projeto de um designer em geral é concretizado por outro personagem da mesma forma que o briefing (a "encomenda" do trabalho) normalmente é dado por uma instituição ou pessoa que contrata o designer para a realização do projeto. Ou seja, o designer é um profissional que atua na cadeia de produção entre quem decide que determinada coisa será produzida e quem realmente produz.
O que não é design
O que se segue são alguns exemplos de coisas que não podem ser consideradas design a partir da definição acima, não esgotando de forma alguma a vasta gama de respostas possíveis a essa proposta.
Moai
Os Moai, esculturas da Ilha de Páscoa, não podem de modo algum ser consideradas design. Não se sabe ao certo qual seu sentido para o povo que os construiu, mas certamente isso se deu com alguma intenção mágica ou espiritual, coerente com uma visão de mundo completamente diferente daquela que caracteriza a produção industrial. Não se poderia portanto sequer falar de função para tais objetos, nem de valor estético como se diz comumente dos objetos de arte. Esculturas como essas, que carregam simbologias mitológicas são entendidas pelos povos que as construíram muitas vezes como entidades vivas ou manifestações de entidades, ou seja, a relação desses indivíduos com tais objetos é completamente diferente da relação do ocidental moderno com quaisquer outros objetos, porque provém de outro entendimento da realidade.
Objeto de arte
Uma escultura está mais próxima de uma performance corporal ou musical que de um objeto de design. Para o senso comum, os objetos de arte não têm nenhum objetivo funcional e são expressões de conceitos subjetivos significativos para o autor, que muitas vezes sequer está preocupado em comunicar uma mensagem ou conceito determinado. Mesmo que haja um “encomendante” da obra, sua relação com o artista é muito diferente da relação do cliente com o designer, já que o artista em geral tem liberdade total de criação. A principal diferença entre o objeto de arte e o de design talvez seja o fato de que na arte o artista faz o que quer e o público pode “gostar” ou não da experiência que aquela obra lhe causa, enquanto no design há uma preocupação com a adequação daquele objeto não só aos recursos disponíveis e requisitos a serem atendidos, como também à capacidade de aceitação por determinado público e eficácia em executar determinada tarefa. Além disso, mesmo que o artista planeje o objeto que vai produzir, esse projeto pode ser alterado a qualquer momento, já que na maioria dos casos é o próprio que executará a obra.
Objeto de artesanato
O artesanato popular tradicional é às vezes um caso muito semelhante à arte, com a diferença que os objetos artesanais não possuem o mesmo status por questões mais políticas que qualquer outra coisa. Justamente por não ter o mesmo status, o objeto de artesanato é vendido a valores muito mais baixos que os objetos de arte. Assim, o artesão tem que vender uma quantidade muito maior de objetos que o artista, por isso, quando um objeto tem boa aceitação pelo público, o artesão procura reproduzi-lo. Entretanto, cada peça é feita individualmente, e o artesão pode improvisar se errar ou introduzir modificações a cada peça, ou seja, mesmo que várias peças parecidas sejam produzidas, grande parte da criação se dá no momento de feitura do objeto, ao contrário do objeto de design, para a produção do qual são necessárias instruções precisas.
Brasão de família
Um brasão de família pode se assemelhar ao conceito moderno de identidade visual, mas difere em muitos aspectos. Enquanto um projeto de identidade visual determina regras precisas de reprodução e aplicação, um brasão é, antes de mais nada, uma representação iconográfica de determinado grupo (família, Estado etc). Ou seja, mais importante que a “fidelidade” às cores e traços do desenho original é a presença de determinados signos e a capacidade do público de decodificá-los e reconhecer os conceitos que simbolizam.
Ideograma oriental
Os ideogramas orientais também são símbolos que poderiam ser confundidos com logotipos, mas são completamente diferentes, principalmente sob o ponto de vista dos povos que os criaram e utilizam. Para eles um ideograma não é simplesmente a representação convencionada de um conceito. Mais que isso, o ideograma é o próprio conceito, não havendo separação entre forma e conteúdo. Um ideograma é a versão (mais que a representação) visual de determinado som, que por sua vez é ele mesmo o conceito.
referências bibliográficas: Souza, Pedro Luiz Pereira de. O design à margem da razão. 2008 > quem quiser ler o texto me escreve que eu envio!